A Floresta do Céu de Trevas - Capítulo 41
A lua cheia e a vasta quantidade de estrelas iluminam com grandeza a Zona Neutra. A cabeça do ser magricelo continua rodopiando pelo ar até cair e quicar algumas vezes pelo chão até finalmente parar. O olho de luz desaparece aos poucos do rosto da besta, bastante de seu sangue negro manchou o solo. O corpo sem forças da criatura despenca para trás, formando uma poça de preto pelo o que escorre de seus sérios ferimentos. Nesta noite, um dos monstros mais perigosos da floresta foi abatido.
Uma batida fraca de coração soa. Vasto está na frente do corpo de Polaris. O espadachim, com seus olhos quase fechados e uma expressão desolada, visualiza o anão de forma desfocada, praticamente irreconhecível. Apesar disso, ele sabe quem é o indivíduo em sua frente. Os lábios do homem se movem devagar, ele parece dizer algo, mas, é inaudível, ou, ao menos seria assim para a maioria das pessoas.
— Que tudo dê certo… para vocês… — são as palavras que chegam aos ouvidos do anão. Um sorriso leve surge em sua expressão, em seguida seu rosto cai lentamente.
— Sim… Você foi um companheiro extraordinário, garoto.
Os sons de batidas de coração vão diminuindo em frequência e volume a cada segundo que passa.
“Ririn… Rioul… pessoal…” o espadachim se recorda de seus antigos companheiros. “Queria poder contar isso para vocês… O senhor Vasto na verdade é bem mais incrível do que nas histórias… Vocês iriam gostar das histórias… que ele me contou…”
Mesmo sendo de noite, nesse momento Polaris parece iluminado como em um belo dia. Apesar de seu estado lastimável, a sensação mais forte que o espadachim passa é paz. Uma profunda paz.
“Me desculpem por não ter acompanhado vocês antes… Foi bom… ter vivido… com todos…”
A última batida de coração ecoa. Polaris, o honrado espadachim, morreu.
O anão olha para o homem por algum tempo até decidir fechar seus olhos. Ele se vira e encara o corpo do monstro.
“Essa coisa realmente fez um estrago…” pensa. “Mesmo com a Ordelix em mãos, não acho que eu ganharia dele se seu roubo de mana ainda existisse. Ele sugaria a força regenerativa do núcleo de ‘natureza’ e isso tornaria complicado a recuperação de minhas sequelas internas.” Vasto olha outra vez para Polaris. “Essa vitória não foi minha. Foi sua, garoto.”
Uma gota de sangue que acaba de cair do rosto do espadachim reflete a imagem da lua, em sequência ela desaparece na terra. Uma corrente de vento passa pelo local, balançando os galhos das árvores com leveza.
O tempo vai passando, uma transição de cenas vai ocorrendo. O primeiro foco é Bassara, que está preso entre os galhos de uma árvore. O anão posiciona a Ordelix de lado em cima da cabeça do aldeão, durante esse tempo, o núcleo mana verde espalha sua energia como partículas pelo corpo dele.
“Isso é o suficiente por enquanto.” considera o anão ao parar o contato da espada com o corpo de Bassara. “Não vai acordar tão cedo, mas seus ferimentos não são mais fatais. Hora de checar os outros.”
E assim é feito. Um por um dos perdidos vai sendo curado por Vasto. Os que tinham ferimentos mais leves, como Sayru e Rogerinho, acordam ainda nessa noite, surpresos com a visão do anão sentado com a arma por cima do corpo de Babuíno.
A perspectiva sobe alto para o céu estrelado. Dessa vez a sinfonia perversa da névoa não tocou.
A longa noite da 3° Onda se encerra aqui.
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Agora é dia na Zona Neutra, o sol ilumina forte sem as interferências de nuvens. A Caverna de Fios atualmente tem um aspecto semelhante ao de ruínas, tanto na sala da fornalha destruída ou do lado de fora em seu muro ou teto. As marcas do combate da noite anterior estarão para sempre marcadas em suas rochas.
O vento circula de forma agradável pelo ambiente, bagunçando as folhas velhas e novas pelo chão.
Os Perdidos estão no cemitério, prestando os devidos respeitos aos que se foram. A luz solar que passa pelos galhos forma holofotes belos, que se estendem com aparências torcidas por todo o local. A lápide com o nome esculpido de Polaris foi posta ao lado da com a nomeação de Ririn. Todos os indivíduos ali portam expressões desanimadas, apenas a de Rol Bost não é visível pelo seu cabelo estar na frente de sua cara e a sua cabeça estar inclinada para baixo. O rapaz mesmo tendo sido apenas um estagiário antes de entrar na floresta, acabou se tornando o último membro restante dos Uivos de Lobos. A solidão que ele sente agora é incomparável.
— Ele foi um grande cara. — elogia Bassara. Ele agora usa um tapa olho de couro no lado direito de sua face, aparentemente o órgão correspondente foi ferido com o golpe do ser magricelo que o atingiu.
— Eu admirava ele. — fala Rogerinho, Sayru concorda com um gesto usando a cabeça.
— Sim. Se não fosse pelos seus feitos, nenhum de nós estaria vivo para esse dia. — ressalta o anão. Seu corpo se tornou tão robusto quanto o de alguns anos atrás, o que expõe o quanto recuperou de seu auge com a espada. — Infelizmente, nem o poder de natureza “dela” pode curar ferimentos tão sérios quanto esse. — diz apontando para seu braço direito ainda inexistente, a perspectiva em seguida também mostra o tapa olho do aldeão.
Os sons dos passos de Rol Bost soam pelo local. Ele parte desse ambiente sem falar nada. O grupo olha para ele também em silêncio.
— Deixem ele. O rapaz vai precisar de um tempo. — recomenda Babuíno depois que Rol Bost desapareceu do lugar.
— Isso não vai ser fácil pra ele. — fala Rogerinho. — É como se ele estivesse sozinho agora, já que é o último remanescente de seu antigo time.
Vasto pega a Ordelix em sua cintura e observa sua imagem refletida no metal.
— Hm? O que é isso? — indaga Bassara ao notar algo estranho na lápide de Tobias. O nome dele está riscado e logo abaixo foi esculpida outra palavra.
— Ah, isso? Eu só dei uma corrigida. — responde Rogerinho. — Tobias era só um apelido que ele gostava que o chamassem. Seu nome verdadeiro é esse, então eu consertei alguns dias atrás.
— Entendo…
— Esse nome é estranho… nunca ouvi nada semelhante. — diz Babuíno.
— K-l-a-y. — soletra Bassara, um calafrio percorre seu corpo. — Klay…? Não achei que algum dia iria falar isso sobre um nome, mas, ele me passa uma sensação estranha.
— Não é? Todo mundo comentava isso, por isso ele preferia ser chamado de Tobias. — esclarece o homem de Ty.
Uma folha pousa no solo próximo da entrada sombria da Caverna de Esqueletos. No que era antes o ninho das toupeiras, atualmente inundada, se movem as silhuetas bizarras de alguns dos monstros que vieram do rio temporário que passou pela Zona Neutra na 2° Onda.
— Eu gostaria que Polaris estivesse no meu lugar. Ele usaria bem a Ordelix… o tempo de glória de um velho como eu já passou. — Vasto aponta sua espada para a frente. — Mas já que as coisas são assim, irei fazer meu papel. Eu serei a lança que irá abrir caminho para a nossa fuga da floresta!
Todos olham para o imponente anão com expressões sérias. Seus corações estão cheios de determinação para se opor a mata amaldiçoada. Essa é a promessa de uma batalha por seus futuros.
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Em outra parte da floresta, em um local mais sombrio tomado por uma densa névoa, certo tecido velho balança devido ao vento. O monstro encapuzado se move de forma tenebrosa pela mata, só após algum tempo ele chega ao seu objetivo.
— Parece que o “experimento primordial” foi abatido… Ele não era relevante para os planos, mas, sua existência havia se tornado uma possibilidade como minha próxima dissecação.
A criatura encara algo com seu rosto sem fundo. Ele olha para o profundo tenebroso de um enorme abismo, só que o mais tenso nesse local não é a queda sem fim. Casulos. Muitos casulos. Uma infinidade deles estão espalhados pelas paredes esféricas desse local, estando todos presos em vários galhos robustos que estão ligados entre si. Os milhares de projetos humanoides se estendem até o fundo das trevas deste local.
— O dia do êxito está chegando… — anuncia enquanto estende seus braços para cima, como se estivesse glorificando algo.
As trevas no céu rondam de maneira tenebrosa.
Indo para bem fundo naquela escuridão, uma silhueta em especial se destaca mais do que as outras. Aos poucos os contornos de seu corpo vão brilhando em um tom laranja como fogo, iluminando suas escamas pretas e assim dando uma estimativa do que ele é. Repentinamente um medonho olho réptil se abre. Com um rugido feroz, o dragão negro revela sua existência.
Pássaros de variados tipos fogem assustados das árvores em que estão, até mesmo os mais bestiais entre essas espécies.
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Do lado de fora da floresta, mas não tão longe de sua entrada, alguém conhecido olha o céu com paciência. Alguns pássaros assustados vão viajando pelo azul, desejando se afastarem o máximo possível da mata. O anuncio de desgraça se espalha. Mesmo sendo por motivos de fuga, alguns dos monstros perigosos da floresta começam a se espalhar pelo reino. E com o tempo, isso irá piorar.
Sourlthem aproveita a visão sentado em uma pilha de corpos do que eram antes mercenários e aventureiros. Sua máscara não revela nenhum sinal de como sua expressão parece nesse momento, entretanto, sua risada tenebrosa deixa exposto seu ânimo com a situação. Apesar de ter lutado recentemente contra tantos inimigos, não existe nenhum indício de dano em seu corpo. Nada se apresentou como uma ameaça para ele.
— Parece que as coisas finalmente estão ficando melhores! HA HA HA!! O tédio de cuidar das entradas da floresta já estava me corroendo!
O bárbaro levanta exaltado, seus cabelos balançam. O machado robusto guardado em suas costas reflete a luz do sol em seu metal. Os três núcleos de mana incrustado na arma brilham em cores distintas. O homem força seus músculos em excitação, suas mãos estão com os dedos posicionados próximos de sua palma. O ar estremece, bastante poeira baixa começa a se movimentar de forma circular por volta de onde ele está. Uma energia esbranquiçada sai de seu corpo como vapor.
— VASTO, O DIA DE FAZER UMA VISITA ESTÁ CHEGANDO!!! HA HA HA!!! — subitamente as rochas no solo racham, seu pequenos pedaços ficam flutuando no ar.
Enquanto os perdidos se recuperam de suas feridas, os terrores ocultos d’A Floresta do Céu de Trevas começam a revelar mais de suas garras.
A luta contra a tenebrosa floresta se aproxima de seus eventos finais.
[2° Arco: As Brutais Ondas | Concluído. Volume 1/2 Finalizado.]
Fim…?
— Nota —
Olá, sou K. Luz, o escritor dessa história. É… acredito que devo comentar e explicar algumas coisas aqui. Em todo caso, muito obrigado por ler FCT (A Floresta do Céu de Trevas) até esse ponto. Isso realmente me deixa feliz, saber que esse material cativou alguém até chegar o final.
Indo ao que interessa, vou contar os motivos dessa história ter surgido. Lá pelo começo de 2019, eu mestrei uma mesa de RPG com esse mesmo título da obra (isso mesmo, agora você sabe porque os nomes dos personagens são tão estranhos). Rol Bost na verdade deveria ser chamado de Rola Bosta, mas, um limite tinha que existir, me desculpem tive que “censurar” um pouco, hahaha. Por curiosidade, Vasto era um NPC, é, esse anão maneiro era apenas um NPC na mesa, com bem pouco destaque devo dizer… Cof cof, enfim, na época eu fiz um capítulo/relatório do que aconteceu na mesa e guardei. Meses depois, terminei meu primeiro livro: Rio Vermelho – A Corrida da Vida, após ter passado três anos o escrevendo. Porém, ele, apesar de interessante, ficou mal feito em vários quesitos técnicos, então acabei decidindo treinar com outra história antes de o refazer. E bem, aqui estamos, com o primeiro volume do tal “livro treino” que acabou ficando mais interessante do que o esperado. Após meses esbarrei com o arquivo do rascunho, que era bem ruim (tinha até sistema de RPG no meio), e um forte ar imaturo. Infelizmente eu acabei deletando esse capítulo rascunho, seria interessante o refazer hoje em dia passo a passo só como um especial.
Então meus consagrados… FCT cumpriu com louvor seu propósito, ao menos ao meu ver. Eu melhorei muito com ele em todos os sentidos e serei eternamente grato a isso. Também quero agradecer a todas as pessoas do Wattpad que me deram críticas sobre os pontos técnicos em que seria bom eu melhorar, foi graças a eles que pude ter dado um salto de habilidade tão largo em tão poucos meses. Muito obrigado, de verdade. Ah, quero também agradecer ao “Karlabos (Oliver Kolossoski)”, ele deu uma força maneira na revisão, e por sinal, ele também é escritor. Recomendo a sua obra: Hinderman. Particularmente é meu livro preferido no wattpad.
É isso. Espero que possa acompanhar outros de meus trabalhos com o tempo, ainda sou um novato, mas estarei me esforçando em fazer boas histórias. :p
Até a próxima!
Um presente por terem lido a nota:
Meus Próximos Projetos:
“Longos cabelos loiros são balançados pelo movimento brusco que esse indivíduo faz, uma aura incandescente de tom azul claro se espalha por seus braços com aspecto semelhante ao de tecidos musculares. Sangue e suor são jogados para o ar, uma forte pisada é desferida sobre o solo. Seu corpo está em uma situação deplorável, mesmo assim, Klay, com seu clássico rugido, desfere um poderoso soco contra essa perspectiva. Sua expressão enfurecida é marcante.”
Klay terá sua épica e dramática jornada pela masmorra lendária recontada.
[Legada da Aura 1: Rio Vermelho – A Corrida da Vida] será refeito e continuará sendo o primeiro livro do universo Aura. (Possivelmente já concluído neste tempo em que ler esse texto.)
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“Uma espada reflete os poucos raios solares que passam pelos galhos das árvores, uma medonha névoa está espalhada por todo o local. Poções feitas de madeira chacoalham no cinto de couro a cada passo que esse estranho homem dá. Logo a frente dele se encontra a barreira de luz que protege a Zona Neutra. Seus olhos vermelhos brilham enquanto ele, que antes era um aventureiro, se aproxima do ambiente de vida dos Perdidos.
Rertz, o alquimista, avança para matar os invasores dessas terras.”
[Legado da Alma: A Floresta do Céu de Trevas – A Onda de Perdidos] será o próximo livro do universo Alma.