A Ordem Espiritual - Capítulo 14
Convergência
Num momento de pura intensidade, Azaael desencadeia toda a magnitude de seu poder, transcendendo além de seus próprios limites.
Com um movimento feroz para a frente, o demônio rompe a barreira da luz, dilacerando o solo e gerando uma pressão que distorce o próprio tecido do espaço-tempo, aniquilando tudo em seu entorno com uma avassaladora ferocidade.
Enquanto Masaru mantém um olhar desafiador, imóvel como uma estátua, a energia começa a se acumular na palma de seu único braço restante.
Esse evento cria uma dimensão temporal única; diante dos olhos da entidade, o mundo parece congelado, como se o tempo tivesse sido suspenso.
Seu corpo, ainda envolto pela aura abissal, pulsa com uma energia intensa, enquanto ele percebe o tremor sutil através de sua percepção aguçada.
Com um instante de hiperfoco no mundo astral, ele se move com a fluidez de um mestre, dançando entre os obstáculos que surgem diante dele.
Diante de seus olhos, barreiras translúcidas se multiplicam rapidamente, como teias de aranha tecidas num frenesi.
A proximidade entre ele e Masaru é mínima, mas as barreiras os separam cruelmente.
— O que é isso? Quando ele as conjurou? — ele questiona, sua voz ecoando com uma mistura de surpresa e determinação, silenciada gradualmente pelo vácuo espacial, do caos que ele próprio desencadeia.
Num instante vertiginoso, ele desfere um golpe, cortando o espaço com o punho direito impulsionado pela aceleração, quebrando a primeira de muitas barreiras.
Ela se despedaça como vidro, seus fragmentos dissipando-se sob a força do golpe, como se nunca tivessem existido.
Este é apenas o primeiro golpe de uma série interminável, seus dois punhos se lançando audaciosamente, devorando cada centímetro de espaço em sua busca implacável pelo exorcista.
“Não… ele não utilizou um selo, um recito…”
Enquanto sua mente trabalha freneticamente, Azaael arqueia suas costas, interrompendo seu movimento abruptamente, e lança um golpe direto ao centro da barreira espiritual diante dele.
Gradualmente, os efeitos da dimensão se dissipam, a paleta de cores retrocedendo lentamente diante dele, desvanecendo-se à medida que avança em direção ao exorcista.
O impacto dilacera a barreira em uma miríade de pedaços, seu poder ressoando, cada vez mais intenso, até se deter no último obstáculo, diante dos olhos de Masaru, agora livre dos efeitos da dimensão temporal.
Azaael, exausto após gastar toda sua energia abissal em um golpe falho, ofega enquanto o encara. A rachadura deixada pelo golpe é a prova da intensidade do embate, e o exorcista mantém seu olhar firme, desafiando o demônio.
— O que você fez, garoto? — indaga, soltando suspiros de exaustão enquanto seu dragão é absorvido por sua pele, fazendo sua aura negra estabilizar novamente.
Ao redor deles, inúmeras crateras marcam o terreno, testemunhas dos poderosos golpes trocados, moldando a geografia daquele lugar e deixando um rastro de calor intenso em seu despertar.
— Eu?… Só… imaginei! — responde Masaru, seus olhos fixos na aglomeração de energia que flui em sua palma, uma concentração jamais vista por ele. Então, ele desvia o olhar para o lado, onde resta apenas seu braço esquerdo, — Foi como quando perdi o braço… — diz ele, seus olhos brilhando com determinação.
“Merda… talvez… ele possa ter feito um pacto de jura… isso… só pode ser uma coisa…”
Em meio às suas deduções, a verdade se desvela como uma revelação, fazendo o Rei demônio se surpreender:
— Você se uniu à sua própria energia! Você se tornou um ser celestial! — resmunga, retrocedendo três passos, seus cabelos sendo agitados pela ventania calorosa que surge.
Tudo está claro desde o momento em que Masaru saiu vivo do ataque. Desde os escudos, ele se fundiu com sua própria energia, sua própria anatomia astral.
Nesse instante, seu cérebro, seu coração, sua vontade, tornam-se como seus membros, sua voz, pulsando em perfeita sintonia.
— É? Putz, então você tá em apuros… — graceja, e em um instante, ele desaparece da vista de Azaael.
“Só tenho a energia do dragão para usar!
Já ele, esse garoto, está um passo à frente… já está na hora de eu ir!”
Pensa a entidade, que percebe com dificuldade a energia espiritual fluir ao seu redor, vinda de diversos pontos distantes, como um rio turbulento buscando seu curso.
Enquanto Gabriel emerge triunfante de um amontoado de destroços que cobre suas vistas, um suspiro de alívio escapa-lhe dos lábios, e Masaru se ergue majestosamente no ar.
Seu olhar transborda de grandeza, suas costas desnudas arrepiadas pela ventania cortante que permeia o ambiente.
A energia espiritual de seus ataques anteriores flui através dele, alimentando sua sede insaciável, e se concentra na esfera de poder que pulsa em sua mão.
Naquele momento, ele é uma força imparável da natureza.
“Há mais exorcistas vindo…
E parece que este pirralho não desistirá tão fácil!”
Encarando Masaru com firmeza, vê uma barreira translúcida emergir ao seu redor, como se o próprio destino estivesse se solidificando contra ele.
Gabriel, finalmente, se intromete no embate, injetando uma nova dose de tensão.
“O momento chegou!
Desculpe, Masaru, mas não haverá um após este instante!”
O ser percebe que está à beira do abismo, encarando a morte ou algo ainda mais sinistro, deixando-o encurralado, sem escapatória. É a primeira vez que o Rei demônio, o dragão vermelho, sente nervosismo.
“Eu não serei exorcizado aqui…”
Ele pensa, cerrando os punhos com determinação, seus olhos tornando-se ainda mais penetrantes, desafiando o inevitável. Naquele momento crucial, ele lança seu destino ao vento:
— Expando potentiam: fac me unum cum tenebris esse!
Um desafio direto ao divino, o demônio conjura um feitiço, desafiando as próprias leis do universo.
No mesmo instante em que Masaru lança seu ataque, uma esfera massiva de energia espiritual gira com uma intensidade avassaladora que culmina em uma explosão devastadora, contida apenas pelas barreiras erguidas por Gabriel.
— Fortifica! — ele profere, sua voz ecoando com uma determinação inabalável, — Fortifica! Fortifica! Fortifica! — A cada palavra, a barreira pulsa com uma tonalidade branca ainda mais intensa, fortalecendo-se diante da investida. Enquanto isso, um tremor de proporções épicas ressoa por todo o continente, ecoando o choque titânico entre poderes sobrenaturais.
“Quanta potência…”
Ventos surgem com uma intensidade avassaladora, varrendo as nuvens de toda a Crea dos céus e desencadeando ventanias poderosas que varrem cada canto, atravessando as águas de Flumem com uma fúria incontrolável.
Um turbilhão de força primordial que derruba tudo em seu caminho, desafiando a própria essência da natureza.
Mesmo Gabriel, um bastião de poder, quase cambaleia para trás sob o impacto da tempestade iminente.
Enquanto seu amigo, Masaru, cai de joelhos ao solo, quase se quebrando sob a pressão esmagadora da batalha, ele sente um arrepio gélido percorrer-lhe a espinha, uma premonição do perigo iminente que se avizinha.
Azaael emerge de sua sombra, um vulto fugaz que desaparece num piscar de olhos, escapando em uma fuga desesperada, deixando apenas a sensação de traição e frustração no ar.
— Ele escapou… Que demônio original mais covarde! — xinga, sua voz carregada de raiva e decepção ao perceber o restante de energia negra dissipar-se na escuridão, uma lembrança amarga daquilo que escapou de suas mãos.
Seus olhos se envolvem no vendaval de energia, que caotiza a destruição e o caos, contidos dentro do feitiço de Gabriel.
— Ele estava tão cheio de si…
E num frenesi vertiginoso, ele cruza a cidade de forma covarde, impulsionado pelo resquício de energia negra, planando até invadir o apartamento com um estrondo ensurdecedor, estilhaçando a janela e aterrissando com violência na cozinha.
— Droga, droga! Esse moleque realmente me pegou de jeito! — ele indaga enquanto fita o teto, exalando em exaustão, antes de decidir com determinação: — O exorcista mais poderoso… será uma diversão jogar esse jogo com uma peça tão intrigante no tabuleiro! — ele se ergue com dificuldade, uma dor latejante se apoderando de sua cabeça enquanto sua energia negra se desvincula de seu ser, o sangue escorrendo de seu nariz enquanto se apoia na mesa.
Uma febre abrasadora, uma agonia no abdômen, o feitiço que havia lançado intoxica-o com uma sobrecarga de energia espiritual.
— Um corpo, duas almas… duas essências… quase fui longe demais… — ele murmura, sentando na beira da cama, a visão turvando-se. — Isso é chegar no limite? Que exaustão… aquele moleque… vai tomar controle… logo, logo! — desfalece sobre a cama, o sangue tingindo o lençol e seu corpo quase dobrado de dor.
Sua posse chega ao fim!
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