Invoker - Capitulo 2
Existiam tipos de soldados; alguns eram temidos por sua agressividade, enquanto outros destacavam-se por suas habilidades em obter informações de outros, podendo recorrer à tortura para tal. Esses últimos eram os mais condecorados pelo rei, indicando que, para ele, a tortura era um recurso e não uma bizarrice.
— Olá, caros estudantes! Eu vim pessoalmente verificar esta raridade!
— Como assim? O que aconteceu? — Respondeu Selena, tentando despistar.
— Eu queria parabenizá-los por chegarem tão longe. Entendo que esta fase deve ser a mais difícil para os jovens de hoje em dia, e vocês três devem estar um pouco amedrontados, certo? — Disse o comandante, olhando nos olhos de Allister.
— Estamos. Fomos levados a este local sem entender nada. — Disse Selena, confusa.
— Ó cara maga, fique tranquila. Logo saberá o motivo, mas primeiro, contem-me de onde são e o que vieram fazer aqui.
— Ó caro soldado, não usamos essa linguagem de vovó carrancuda não, ouviu?
O clima entre Selena e o militar não era amistoso. Allister via-se entre a espada e a cruz, queria ficar ao lado de Selena, pois tinha seus receios perante aquela figura. Linea apertava mais e mais a mão de Allister.
— Quero ir pra casa. — Disse Linea em um tom baixo e triste, baixando a cabeça e se calando perante toda confusão.
O Soldado percebeu a ação de Linea e Allister; sua cara passou de incomodada para curiosa, levantando sua mão e fechando a boca de Selena com ela:
— O que vocês dois estão fazendo? — Disse ele enquanto Selena mordia um de seus dedos na raiva.
— Allister está com dor de barriga. — Respondeu Linea, colocando a mão no nariz como se tivesse um cheiro ruim no ar.
Allister começou a cheirar o ar com um tom meio preocupado enquanto o soldado soltou um sorriso.
— Aquela salamandra que você invocou deve ter dado essa dor, né?
— Como você sabe dela, senhor?
— Existiam câmeras lá; vocês só não têm magia suficiente para detectá-las.
— Como? Eu teria visto.
— Nosso equipamento é do mais alto nível; dificilmente um novato iria perceber. Mas admiro sua coragem, invocador. — Disse o soldado, sorrindo enquanto pegava um copo de água.
Allister engoliu a seco sua saliva; seus olhos tremiam diante da fala e do jeito amedrontador daquele que estava saciando a sede tranquilamente.
— E… eu não sei…
Linea interrompeu Allister dizendo:
— Sua mão está molhada; você vai fazer xixi na cama se continuar assim.
Selena parou de brigar com a mão daquele soldado e começou a rir; o soldado arregalou os olhos de surpresa por um tempo e respirou fundo.
— Você, menina, leve o Allister ao banheiro; vou punir essa garota aqui e logo devolvo ela a vocês.
— Oxe, você que vem botando a mão na minha boca. — Retrucou Selena, irritada com a conclusão.
Allister e Linea saíram do local sem questionar nada, sentaram-se no primeiro banco que acharam e ficaram lá. Nisso, Linea projetou seu corpo para seu amigo, deitando-se com a cabeça no colo dele e com os pés na ponta do banco.
— Estou cansada. — Disse sem se importar com o seu redor; alguns militares olhavam com estranheza, mas não mexiam eles ali. Allister levantou seu braço na altura da cabeça de Linea e começou a fazer um cafuné, como se fosse algo normal a se fazer.
De volta à sala, o militar retomou uma expressão séria e logo confrontou Selena:
— Você ainda está nisso? Seu poder está cada vez mais fraco. Desta vez, eu não fui afetado. Não vai ser o suficien….
Selena respondeu ao tratamento da mesma forma que o militar a havia tratado, projetando sua mão na boca dele.
— Quieto! Você não sabe de nada. Desta vez, ele quem despertou, não eu.
— Ah, como? Ele mostrou ser mais do mesmo e não mudou nada. — Disse o soldado, retirando a mão de Selena, arregalando os olhos e voltando à compostura.
— Ele está diferente. Confie em mim, o primeiro passo já foi dado.
O militar arregalou os olhos novamente, incrédulo e quase sem palavras.
— Como? É necessária muita prática. Ele pode ter dominado isso com o tempo preso, né?
— Quieto, mas deu certo.
O militar voltou à sua cadeira, relendo alguns relatórios, e fez um sinal para Selena, ordenando que ela se retirasse. No entanto, Selena não gostou nada e dirigiu-se à porta. Quando a abriu, estalou os dedos e fechou a porta com força, travando-a de dentro para fora e trancando o militar no local, sem as vestes.
“Você me paga, sua bruxinha.”
Ao retornar, Selena percebeu Allister e Linea dormindo.
“Já começaram sem mim.”
Ela se agachou e assoprou devagar, acordando ambos no processo.
— Hmm, que sono. Ah, oi Selena, como foi lá? — Disse Allister, ainda um pouco sonolento.
— Foi de boa. Ele foi seduzido pela minha beleza e me deixou ir.
— É, você é bonita, não tem jeito né?
Selena ficou surpresa com a fala de Allister, ficando um pouco vermelha logo em seguida.
— O-obrigada, sabe, você até que tem um charme também… — Ao terminar de falar, ele pegou na mão dele e de Linea, sem dar tempo para os dois entenderem a fala, e os ajudando a levantar para os levar para fora daquele corredor.
— Vamos ver onde vamos dormir, seus dois sonolentos.
Selena levou os dois até a recepção novamente. Uma nova android os levou à saída; ela parecia muito mais bonita que as outras duas. Suas vestes eram militares, e seu olhar vazio tinha dois diamantes azuis, cabelo escuro e um tom de pele negro, macio e cheio de brilho, deixando a todos boquiabertos.
Lá fora, havia uma carroça movida a magia esperando, um modelo básico e sem luxuosidade, mas rápido e confortável para o trio novato. Eles percorreram a cidade inteira num tour animado junto daquela android. As conversas e risadas aproximavam os três, e a android parecia também rir e sorrir com aquilo tudo, como se fosse humana como eles.
— Chegamos. Antes de entrarmos, existem algumas explicações necessárias. — Disse a Android no momento em que o carro parou. — O que acabou de acontecer com vocês foi um teste, o teste de elo. Nele, iniciamos os elos entre pessoas para fortalecer o nível de poder individual e em grupo através do trabalho em equipe. O mundo exterior não terá dó de atacar alguém sozinho, mas pensará duas vezes ao atacar um grupo, seja de dois, três ou mais. — Ela fez uma breve pausa, como se estivesse recebendo mais informações.
— Será que… — Allister começou a entender um pouco daquela Android. Seu sistema nem sempre era completo e puxava informações de outro lugar, carregando seu banco de dados de tempos em tempos.
— Vocês terão um mentor e um grupo veterano ao seu auxílio. As aulas ocorrerão, em sua maioria, fora da academia neste primeiro ano. O intuito é forçar vocês a se acostumarem aos diversos cenários que a academia enfrenta e que vocês possam evoluir ao máximo.
A Android novamente parou, então Selena levantou sua mão e começou a contar o tempo que a Android carregava novas informações.
— Entendemos que este é o melhor método, pois nunca tivemos mortes nos grupos, e com isso, nosso exército é reconhecido em toda Laka. Se vocês passarem deste primeiro ano, estarão dando um grande passo para a grandeza de nosso reino.
A porta do veículo abriu, todos saíram e deram de cara com uma das fachadas mais elegantes, em tons azuis com detalhes em dourado, esculturas bem detalhadas na entrada e uma porta toda feita da mais cara madeira do país, em tons pretos.
— É lindo, né Selena? — Comentou Allister sobre a decoração do hotel.
— Sim, finalmente o plebiscito venceu!!
— Hmm! — Respondeu Linea.
Selena se voltou para Linea e disse:
— Vamos, Linea, diga alguma coisa!!
— Alguma coisa!!
Selena sorriu com um semblante de irritação. Então, ela desenhou com os dedos algo parecido com um chinelo, e logo Linea correu para trás de Allister, usando-o como um tipo de escudo. Selena olhou em volta e mudou seu comportamento, mas a sensação que ficou em Linea era de que teria retorno no quarto.
A Android segurou na mão de Allister e o puxou involuntariamente; a outra mão de Allister pegou em Linea e repetidamente fez o mesmo com Selena, fazendo com que o trio fosse puxado para dentro do local. Chegando na recepção, os três ficaram de boca aberta; alguns mosquitos até aproveitaram a ocasião.
O salão da recepção era cheio de cores, com vasos caríssimos banhados a ouro, flores com os mais diversos tons e cheiros. O chão tinha uma pintura dos campos de Endy, as paredes eram cobertas com um amarelo tão vivo que fazia o sol parecer morto. Os quadros pendurados eram delicados, e as pinturas mostravam um pouco da história do reino, desde o passado camponês até a chegada de um ser de outro mundo, trazendo conhecimento e tecnologia para esta civilização.
A Android havia soltado o trio e foi direto para a recepção, que também era composta por duas outras androides. Elas ficaram paradas por alguns segundos, e logo nossa acompanhante retornou:
— Já tenho todos os dados. O quarto é o 208. Me sigam, por favor.
Atrás da recepção, tinham dois portais, eram os mecanismos utilizados para subir e descer. Eles entraram numa espécie de câmara; dentro dela, havia um espaço onde cabiam até 20 pessoas e era totalmente detalhado como se fosse a recepção.
— Parece uma mini recepção aqui dentro. — Disse Allister, admirando todo o local.
— Lindo. — Comentou Linea sobre o local, correndo para trás de Allister.
— Vocês são muito da roça, viu? — Retrucou Selena, entediada com os dois ali.
Ao chegarem, a porta se abriu, e todos saíram. Os corredores pareciam mais simples, apenas com tapetes em vermelho e pouca decoração, mas ainda parecia bem caro e luxuoso. Todos caminharam até a porta do quarto. A Android pegou quatro chaves de seus bolsos, usou uma para abrir, e quando cada um entrava no quarto, ela entregava uma chave.
— Bem-vindos ao dormitório 208, é onde vocês vão ficar pelos próximos 6 anos; seus pertences chegarão em breve, e logo logo vocês terão a visita do seu mentor e o líder do grupo de veteranos.
O quarto seguia a mesma linha de todo o local, com duas camas, uma de casal e uma de solteiro.
— É dona… sei lá, mas não deveriam ter três camas aqui? — Perguntou Allister um pouco preocupado.
— Não, camas de casal e camas unitárias ocupam menos espaço do que três camas. Além disso, em breve teremos apenas a cama de casal para o trio dormir. Vocês, a partir de agora, serão uma família pelo resto de suas vidas. Vocês três, a partir de agora, serão uma só unidade de combate.
— Tendi, vou para a de solteiro ent…
Selena calou o menino e começou a dizer.
— Vamos tirar no palitinho, ou você tem medo de alguma coisa?
Allister estava um pouco desconfortável com a situação toda. Ele não via muita opção com aquilo tudo, porém logo foi confortado por uma fala em sua mente.
“Ela não era a garota dos seus sonhos?”
— Eu e Selena vamos com a cama de casal e Linea com a de solteiro.
Selena sorriu por um breve momento e tentou disfarçar com uma risada.
— Hahahaha, que corajoso você decidir assim sem me perguntar a respeito.
— Você não hesitou, logo pensou o mesmo. — Retrucou Allister olhando diretamente para Selena.
— Ousado demais para quem entrou em ala hoje me admirando, né? — Disse Selena com uma posição de quem havia vencido a batalha.
— Mas como você sabe disso? Estava lendo um livro quando te olhei. — Allister parou; Selena havia vencido o embate.
— Hmm, eu escolho a Linea para dormir na cama de casal, o ousado fracassado dorme na de criança. — Terminou Selena, deixando Allister sem defesa alguma.
“Será que a Selena gosta de…”
Antes de terminar seu pensamento, Allister sentiu uma dor na cabeça e ao olhar para o chão, estava uma pedra com os dizeres: “NÃO CONCLUA ESTE PENSAMENTO”.
Um tempo depois de se arrumarem, Selena, que estava um pouco entediada, se levantou, foi até o centro e começou a falar:
— Por que não nos conhecemos melhor desta vez? No estádio, precisávamos apenas do nome para poder bolar estratégias, mas agora podemos ter mais intimidade com o trio, o que acham?
— Sim, quero. — Respondeu Linea, sem esboçar qualquer reação.
Allister, um pouco sem vontade, apenas movimentou sua cabeça, deixando Selena um pouco brava com ele.
— Tá bom, emburradinho, quem sabe daqui umas décadas você tenta a sorte comigo, hein?
— Pode começar seu show? — Retrucou Allister olhando fixamente para Selena incomodada.
— Uii! Meu nome é Selena, sou uma forte candidata a maga. Serei o suporte necessário, nasci com um dom diferente de poder mental, então consigo criar ilusões e modificar a mente humana.
Allister se levantou rapidamente dizendo:
— Oi? O que tu fez na batalha foi uma ilusão? Por que não conta mais dos poderes? Por que ess…
Selena, com um semblante de tédio, estalou os dedos, e Allister começou a sentir um frio por todo o corpo.
— Demais, muito bom, não achou, Linea? — Disse Selena, estalando os dedos novamente e voltando as coisas ao normal. Eu saí do banheiro todo vermelho de vergonha e me sentei na cama, sem esboçar reação alguma, apenas ouvindo o resto da apresentação.
— Meu objetivo é poder estudar os livros que o rei esconde, pois alguém lá dentro pegou algo meu e… preciso daquilo de volta.
No final da fala, Selena fechou seu semblante, ficando séria e determinada. Linea se levantou, foi até Selena e a abraçou:
— Vai conseguir.
Logo depois, ela levou Selena até a cama e a fez sentar. Selena ficou sem entender nada e apenas acompanhou Linea fazer a sua apresentação:
— Minha vez. Me chamo Linea, quero ser uma bruxa que estuda o corpo. Há alguns anos, uma coisa ocorreu, e meu pai perdeu a memória. Quero estudar sobre o ser humano para recuperar ele e minha mãe.
Allister ficou sem palavras, seu rosto parecia manter a mesma feição por segundos, desacreditado por aquelas palavras, um sentimento de angústia floresceu em seu peito.
“Eu quero ajudá-la a rever os pais”, pensou, colocando a mão em seu coração.
Selena pareceu segurar o choro por um momento e logo se recompôs.
— Lindo, espero que consiga. Eu conheci seus pais, eles eram talentosos e grandes guerreiros.
Allister completou:
— Vocês duas têm missões nobres a completar. Espero que alcancem seus objetivos.
— Pelo menos a gente não quer se vingar de um rei, né? — Respondeu Selena à minha frase.
A feição de Allister mudou repentinamente, confuso com a fala de Selena.
— Como sabe?
— Eu sempre soube. — Disse apontando para a própria cabeça.
Allister compreendeu rapidamente; aquela mulher em sua frente era muito mais poderosa do que ele achava, mas ele ainda não se sentia confiante.
— Tu lê a mente das pessoas?
— É, por aí, leio mentes. Por exemplo, a Linea agora está pensando em poder abraçar um cachorrinho. — Respondeu Selena com um semblante mais sério.
— Mas se eu disser que é mentira? Afinal, eu vim aqui mostrar ao rei que todos têm o seu valor.
Selena riu logo de cara, Linea levantou a cabeça, dizendo algo que Allister não conseguiu compreender.
— Sabe que os mentirosos têm severas punições, não é? — Continuou Selena.
— Eu tenho um equipamento do mais alto nível para repelir sua magia, ele é S.
Os equipamentos neste reino possuem níveis, vão de F até o S, e seu nível é determinado pela fluidez de magia que ele passa. Se você consegue soltar magias de baixo volume, seu nível é baixo. Se você soltar uma magia do tamanho de um ser humano comum, seu nível já é maior, sendo que S seriam objetos que permitem um fluxo tão grande capazes de gerarem até milagres.
— Veremos, ó grande moleque do rank S.
Antes que Allister pudesse ter qualquer reação, Selena estalou os dedos e uma luz tomou conta totalmente da sala.
— Au au!!
Linea cuidou daquele lindo cachorrinho a noite toda, dando de comer, beber e fazendo carinho em sua barriga. Ele latia muito, mas Selena só conseguia rir de toda aquela cena. Os três acabaram por dormir numa noite tranquila e serena.
“Seu destino está prestes a mudar; temos muita confiança nos teus feitos.”