Knight Of Chaos - Capítulo 348
Bam! Crack!
Sangue espirrou, enquanto o som de ossos quebrando soou, estalando pouco a pouco, era como um inferno para Neza.
Ferman estava o levantando, deixando-o suspenso no ar, o segurava pelo último braço que lhe restava.
Do seu lado esquerdo e direito, os dois Paladinos iniciantes estavam jogados no chão, de forma esparramada. Não havia possibilidades de reconhecer quem eram ou quem já foram, seus corpos estavam completamente mutilados e deformados.
À sua frente, um velho com um sorriso gentil o olhou de forma calma. Era uma cena completamente incompatível com seu estado atual. Havia sangue espirrado em parte de seu peito e rosto, causando uma dissonância assustadora.
Apesar de ser velho, seu poderoso braço o prendeu como um alicate, de tal forma que sentiu-se como uma criança lutando contra um adulto.
“Misericórdia, Sir, eu imploro!” O homem clamava de forma desesperada enquanto se debatia, mas seu corpo aos frangalhos jamais se libertaria da força tirana que o aprisionava.
No chão, logo atrás, caído enquanto tremia, o General Berton Tenari tinha uma expressão de terror absoluto.
“I-impossível, ele deveria estar ferido, estar fraco… deveria ser um velho moribundo… Então como? Como parece estar de volta ao seu auge?” balbuciou, numa mistura de terror e confusão.
Ferman olhou para o rosto do Paladino que estava segurando.
“Seu nome é Neza, certo? Você disse antes que era um grande admirador meu.”
O homem, ao ver o questionamento, assentiu de forma frenética.
“Sir, eu o admiro muito! Admiro tudo que você fez pela humanidade!”
Ouvindo isso, o Cavaleiro fechou os olhos, com um sorriso.
“Entendo.” disse, abrindo os olhos e observando o homem com um olhar gentil. “Eu sou extremamente grato por sua admiração, Neza.”
Vendo isso, o Paladino viu um raio de esperança. No entanto, no momento seguinte, sua visão apagou-se.
Crack!
Ferman ainda estava levantando o homem ao alto com sua mão esquerda. No entanto, com a direita, estava apertando os resquícios do que outrora era a cabeça do sujeito.
“Por sua admiração a mim, ofereço-lhe uma morte rápida.” disse, olhando para o cadáver do Paladino. Então de forma calma, soltou seu corpo morto no chão.
Os soldados em volta tinham rostos cheios de choque. O Cavaleiro Branco, que deveria estar velho e enfraquecido, havia destruído completamente três Paladinos. Não só isso, como o fez sem nenhum esforço.
Mesmo os Generais ao redor tinham rostos de espanto. A perda do poder de combate de Ferman já era algo dado como garantido, principalmente após a confirmação de sua aposentadoria. Mas bem em frente aos seus olhos, tudo dizia o contrário.
O grande homem ruivo logo atrás, tinha uma expressão séria, enquanto vislumbrava as costas do velho.
“Para alguém que disse não ter muito tempo de vida, o Sir parece saudável. Na verdade, você parece até… ter recuperado sua força de antigamente.” A voz áspera de Kaisar soou.
Ferman virou-se para o homem, com um sorriso calmo.
“É como dizem, quanto mais perto da morte, mais saudável e bem alguém se sente. Hohoho.”
Os olhos de Kaisar estreitaram-se, enquanto seus cabelos ruivos balançavam ao vento.
Por mais que tivesse vindo neste dia pagar uma dívida, a verdade é que o homem a quem ele devia esse favor também era um Cavaleiro, assim como ele. Logo, independente de seus sentimentos pessoais, deveria ter cuidado. Além disso, apesar de suas boas relações, eram de diferentes Legiões, sendo Kaisar dos Lobos de Batalha e Ferman de Condor.
Enquanto ambos os Cavaleiros se observavam em silêncio, ninguém ousou emitir um único ruído, mesmo que muitos dos homens ali fossem notórios Generais, com grandes conquistas.
Boa parte do imaginário popular das pessoas em Avalon via os Generais como pessoas onipotentes, aqueles que comandavam milhares e que poderiam fazer tudo que quisessem. Mas na realidade as coisas não eram realmente assim.
Perante o verdadeiro poder, tudo que um General poderia fazer era curvar-se. Aqueles que ditavam as regras, que eram realmente poderosos e que governavam a humanidade, não eram outros senão os Líderes Legionários e seus Conselhos, assim como os Grandes Magos e Cavaleiros. Perante a essas grandes figuras, os Generais eram meros adereços, que deveriam guerrear e cumprir as ordens daqueles acima.
Enquanto ambos os homens se encaravam em silêncio, o braço de Kaisar, que segurava o machado em chamas, moveu-se para o lado.
Swish! BOOOM!
Um grande corte flamejante cortou o ar, passando algumas polegadas do rosto de Ferman, que manteve-se imóvel.
“N-NÃO! AHH!”
Uma voz agonizante gritou pouco atrás do Cavaleiro Branco.
Berton Tenari, que até então estava imóvel no chão, aproveitou o momento de distração dos dois homens para tentar fugir. No entanto, assim que seus pés saíram do chão, numa tentativa de voar para longe, seu corpo foi cortado ao meio.
“AHHH!”
Berton gemeu em agonia, esparramado no chão. Suas duas mãos tentava segurar seu intestino e outros órgãos de vazar de seu corpo. Enquanto não muito longe, a outra parte de seu corpo, da cintura para baixo, estava caída.
“Isso foi desnecessário, pequeno Kaisar.” Ferman disse.
O homem ruivo tinha um rosto calmo e composto e ignorou o comentário.
“Como sabia que te emboscariam aqui, Sir? As coordenadas que passou eram muito precisas…”
O Cavaleiro Branco, ao ouvir isso, pareceu um pouco pensativo.
“Bem, é porque… É o lugar que eu escolheria para matar.” disse, com um sorriso gentil. “Está perto de Meridai, mas longe o bastante para que ninguém interfira. Quando as tropas da cidade chegarem, tudo estará acabado, assim como a cena manipulada estará completa.”
Os Generais que ouviram isso, sentiram um arrepio na espinha ao ouvir Ferman falar sobre isso de forma tão simplória.
A expressão do homem ruivo não mudou em momento algum.
“E quanto ao seu chamado? Ao que parece, você não precisava de ajuda.” falou, olhando para os cadáveres dos Paladinos no chão. Mas logo voltou a olhar para o Cavaleiro. “Pode ser… Que algo tenha mudado nesse meio tempo?”
Ferman sorriu de forma calma ao ouvir a indagação.
“Eu apenas temi que não me restasse forças quando o momento chegasse. Tenho coisas a fazer em Condor antes de partir.”
“Entendo.” Kaisar disse, após ficar brevemente em silêncio. “Sir, com isso, considero paga minha dívida para com você. Espero que viva em conforto seus últimos anos de vida e claro… Espero sinceramente não nos encontrarmos no campo de batalha em lados opostos no futuro.”
Ouvindo isso, o Cavaleiro Branco assentiu.
“Eu desejo o mesmo, pequeno Kaisar. Agradeço por ter atendido ao chamado e peço desculpas por não ter sido necessário que você agisse.”
Sem dizer mais nada, o homem ruivo guardou o machado em chamas, então virou-se, levitando no ar e partindo em direção aos céus. Logo após sua partida, os homens nas matas desapareceram, um a um. Enquanto outros levantaram vôo logo atrás.
Suspiro!
Ai… Estava tão empolgado que parece que cometi um erro… Me desculpe, jovem Fernando, talvez eu tenha atiçado a curiosidade de uma besta gananciosa e insaciável. O velho Cavaleiro pensou, em arrependimento.
“S-sir, o que devemos fazer agora?” Um Oficial perguntou, ao aproximar-se de Ferman.
Ouvindo isso, o velho balançou a mão.
“O que mais? Recolha os corpos dos traidores. Eu estive passivo por tempo demais… É hora de começar a agir.”
Ao ouvir isso, o homem assentiu apressadamente.
Cof! Cof!
Uma respiração pesada, seguida de uma tosse aguda soou. Ferman olhou de forma triste para Berton, que engasgava-se com o próprio sangue, dando seus últimos suspiros. Mesmo que fosse um traidor, era um General alimentado por sua Legião. Sentiu que era uma pena isso estar acontecendo.
Inicialmente ele pretendia interrogá-lo, mas nesse estado o homem morreria em breve. Então o velho homem abaixou-se ao seu lado.
“Berton, pequeno Berton, você cometeu um erro. Você não deveria ter apontado sua espada para mim.”
O General, com um rosto pálido e suado, olhou com raiva para o velho Cavaleiro.
“C-como… v-você… Sua força…”
“Oh, quer saber como recuperei parte da minha força? Bem, isso é um segredo… Posso te falar se prometer não espalhar.” disse, olhando de forma irônica para o homem moribundo. “O garoto que você destratou antes, lembra dele?”
“O g-garoto? O garoto… V-você quer dizer…” A expressão do General era de surpresa ao lembrar do rosto de um pequeno Tenente que conheceu em Belai. Alguém que a seu ver era tão insignificante que nem merecia conhecer o fio da lâmina de sua espada.
“Não só isso, ele até supôs que você poderia estar tramando algo quando viu sua aversão por mim. Rapaz interessante, não é? Mas claro… Eu já sabia de tudo, você é tão claro quanto água cristalina, pequeno Berton.”
Os olhos de Berton Tenari estavam cheios de choque e confusão, sua boca tentou balbuciar algo, mas no fim sua vida esvaiu.
Vendo isso, Ferman suspirou. Então levantou-se, olhando para longe, na direção em que sua ajuda havia partido. Lembrando-se do rosto de um jovem ruivo ambicioso que conheceu anos atrás.
“Espero que o jovem Fernando não seja uma falha como ele…”
Não muito longe, nos céus. Kaisar voava, com dois Generais ao seu lado.
“Cavaleiro Branco uma ova, quem mata um Paladino sorrindo daquela forma? Aquele velhote não é nada simples.” Um dos Generais falou. “Senhor, como ele pode ter tanta força em sua idade?”
A expressão de Kaisar era calma.
“Ele está mentindo.” disse, com uma voz áspera. “Alguma coisa aconteceu, algo que o fez recuperar parte de sua força perdida.”
Os dois Generais tinham expressões estranhas ao ouvirem isso.
“Algo que possa recuperar a força de um Cavaleiro, se uma coisa assim existe, então…”
“Investigue todos os passos do Sir no último mês. Descubra o que mudou, o que o fez mudar e… Traga até mim.” disse, sua expressão mudando ao dizer a última parte.
O General a sua esquerda sentiu um arrepio ao ver o rosto cheio de desejo do homem a quem servia. Kaisar, o Marechal da Guerra dos Lobos de Batalha, também conhecido como Presa Voraz. Um homem que ansiava por poder de forma insaciável, não se importando em criar pilhas de cadáveres para atingir seus objetivos.
“Entendido, meu senhor.”
…
A frente do exército dos Leões Dourados, que partiu de Belai, o Batalhão Zero marchava, pouco atrás do Batalhão Amanhecer.
A expressão de Fernando estava franzida, enquanto um homem negro, um pouco mais alto e com mechas trançadas, apoiava-se em seu ombro, enquanto andavam.
“Como eu disse, Tenente, ou melhor, Fernando. Eu e você, você e eu, somos como irmãos de mães diferentes. Nós viemos da mesma pátria, Brasil, camaradas vestindo verde e amarelo! Dois Brazukas, se aventurando juntos num mundo perigoso e estranho.”
A expressão do jovem pálido estava extremamente escura, enquanto o sujeito ao seu lado não parava de falar.
Momentos antes, Heitor havia revelado que contratou pessoas para investigá-lo e o que mais chamou sua atenção não foi somente suas conquistas, mas sua nacionalidade.
A verdade é que em Avalon, devido a Matriz do Mundo permitir uma comunicação perfeita, independente de que parte da Terra alguém tenha vindo, era extremamente difícil saber a nacionalidade de alguém, a menos que esta pessoa tenha algumas características únicas de seu país.
“É tão difícil encontrar outros brasileiros, você é o décimo que encontro em mais de quatro anos.”
Ouvindo isso, a sobrancelha de Fernando levantou-se com curiosidade, mesmo que não se importasse particularmente em encontrar compatriotas, ainda era algo interessante de saber a respeito.
“E onde eles estão?” perguntou.
“Oh, eles… Todos mortos” O Capitão respondeu, de forma despreocupada.
O jovem Tenente quase tropeçou ao ouvir a resposta. Pela forma animada que o sujeito falou, pensou que estavam todos bem.
“Bem, não se importe tanto. Mais importante que isso, bem-vindo ao Exército de Incursão do General Wayne.” disse, apontando para longe.
Fernando seguiu com seu olhar na direção indicada, ao ver aquilo, seus olhos se arregalaram de surpresa.
Ao longe, um grande exército estava parado. Haviam fileiras e mais fileiras de soldados montados em criaturas enormes, com cerca de três metros de altura.