Knight Of Chaos - Capítulo 394
Antes do sol levantar-se, todas as tropas do enorme exército de mais de quarenta mil homens já estavam terminando suas preparações. Muitos dos Batalhões e Brigadas estavam apostos, aguardando as ordens do alto comando.
Os Generais e Majores já haviam se reunido por mais de duas horas, traçando um plano de ataque e organizando as formações de batalha.
Devido às altas patentes presentes, os cargos de Capitães e Tenentes não foram convidados, e Fernando, obviamente, estava entre eles.
“Nada ainda?” Amanda exclamou, irritada. Ao redor dela, vários Capitães e Tenentes, que aguardavam as ordens que chegariam, estavam dispersos, não muito longe do QG.
“Logo deve acabar.” Heitor disse, olhando para a enorme tenda levantada no centro do acampamento.
Fernando, que não estava muito longe, devido a sua posição nas Tropas de Exploração, olhou os dois sem comentar nada. Logo seus olhos mudaram em direção a um homem magro, que fumava de forma despreocupada, este era Banjo.
Como se percebesse isso, o sujeito devolveu o olhar, mas também não parecia interessado em interagir com o Tenente.
Um jovem pálido; uma mulher alta, loira e musculosa; um rapaz negro, com olhos verdes, alto, musculoso e com tranças; e um homem magro, com cabelo espetado e olhos fundos com olheiras. O quarteto das Tropas de Exploração estava relativamente isolado em meio aos demais.
Muitos dos Capitães e Tenentes olhavam com desdém em direção a eles, afinal, apesar de alguns serem Capitães, haviam sido rebaixados e faziam parte das Tropas de Exploração, também conhecidos como ‘buchas de canhão’, pois quase sempre, membros dessas tropas eram infratores, enviados para essa posição para pagarem por seus atos.
Heitor, percebendo o clima estranho entre os quatro, suspirou.
“Ei, pessoal, vocês estão com as caras muito fechadas, que tal conversarem um pouco?”
Fernando levantou uma sobrancelha, olhando para o homem negro. Apesar de ter se acertado horas antes com eles, isso não significava que seus problemas haviam desaparecido.
“Contanto que ninguém tente me atacar pelas costas…” O jovem Tenente disse, com um rosto inexpressivo.
Tanto Amanda quanto Banjo, franziram a testa ao ouvir isso, mesmo Heitor não sabia como responder, pois ele também tinha culpa no que houve.
“Bem, erros acontecem. Podemos deixar esses assuntos de lado, afinal todos fazemos parte das Tropas de Exploração.” O homem negro comentou, tentando forçar um sorriso.
A situação estava num clima estranho. Não só o grupo estava isolado dos demais, como o clima interno também não era bom.
“O Pequeno Leão, Heitor Sariev, tenho ouvido muito falar de você.” Uma poderosa voz foi ouvida não muito longe, quando um Capitão, seguido de perto por outros dois, um par de homem e mulher, aproximou-se.
Ouvindo isso, o homem negro voltou sua atenção em direção as três pessoas, forçando um sorriso no rosto, apesar do desgosto do apelido.
“Esse sou eu, quem seriam vocês?” perguntou.
O homem ao centro, que parecia ser a figura central, sorriu de forma orgulhosa.
Era um homem caucasiano, relativamente jovem, aparentando ter cerca de trinta anos. Tinha sobrancelhas grossas, longos cabelos castanhos que escorriam de forma disforme por seus ombros. Isso, somado a sua barba cheia que se conectava ao bigode, faziam-no exalar um ar rústico e intimidador, semelhante aos antigos vikings das histórias.
“Meu nome é Alonso Allen, da Brigada Salazar.” O sujeito disse, de forma altiva, esticando a mão direita, que era coberta por uma grande manopla negra, se estendendo todo o caminho até o ombro, na qual terminava numa ombreira afiada, parecendo ser uma única grande peça metálica.
Todo o corpo da manopla, que percorria o braço, era feita de articulações de metal interconectadas, que pareciam fornecer mobilidade suficiente para que pudesse se mover livremente, apesar de todo o metal. Além disso, seu braço esquerdo parecia acoplado com a mesma estranha ferramenta.
“Salazar? Você está brincando?! Aquela Brigada famosa? Então aquele é…” Um Tenente não muito distante disse, em choque.
“Sim, deve ser ele, o Capitão da Brigada Salazar, Alonso, o Mago Punhos de Ferro.” Outro respondeu.
Logo uma atmosfera estranha caiu no ambiente, muitos começaram a comentar e conversar, mesmo as pessoas mais distantes olharam naquela direção.
No local havia muitos Tenentes e Capitães famosos, com grandes conquistas, mas poucos tinham a notória reputação da Brigada Salazar, uma das poucas nomeadas em todo o exército de Wayne.
Mesmo Heitor ficou surpreso quando ouviu o nome, seus olhos se estreitando. Assim como ele, o sujeito a sua frente já havia sido um gênio que se formou na Academia Militar anos atrás.
Após conseguir uma série de conquistas e ser reconhecido publicamente como uma das estrelas em ascensão, o sujeito agora estava se preparando para se elevar ainda mais.
“Então você é o Mago Punhos de Ferro… Também ouvi muito sobre você, um veterano da academia.” disse, apertando a mão do homem, mas ao fazê-lo, sentiu uma poderosa pressão em sua palma.
Fernando, que estava ao lado, viu a expressão de Heitor mudar com o forte aperto. Isso o deixou surpreso, afinal o homem negro não só era um poderoso Mago de Terra, como também era um Usuário de Habilidades, seu corpo não era algo que alguém comum conseguiria prejudicar, ele próprio já havia experimentado isso em primeira mão.
Voltando sua atenção para o Capitão barbudo e de longos cabelos, o jovem pálido não pôde evitar se sentir levemente intimidado. Mesmo que o sujeito fosse da mesma altura que ele, de alguma forma, parecia muito maior.
Amanda e Banjo, que estavam despreocupados até então, também pareciam estar em alerta com a presença do homem.
“Um gênio selecionado pelo próprio General Wayne, sempre quis conhecê-lo pessoalmente desde que fiquei sabendo a seu respeito. Ouvi que estava fazendo sua Missão de Trucidação nas Tropas de Exploração.” Alonso falou, ignorando todo o burburinho e comentários ao redor. Mesmo Amanda, Banjo e Fernando pareciam invisíveis aos seus olhos.
“A Missão de Trucidação? Então aquele sujeito vai fundar uma Brigada Nomeada?!” Muitas pessoas ao redor exclamaram com olhos espantados ao ouvirem sobre, encarando o homem negro.
Mesmo Fernando parecia curioso ao ver a reação das pessoas a respeito.
“Missão de Trucidação, o que é isso?” Alguém perguntou.
“Você não sabe? Quando um Capitão quer fundar uma Brigada Nomeada, um dos requisitos é desafiar uma Missão de Trucidação, ou seja, uma missão com alto risco de morte e falha. Se ele sobreviver e conseguir chegar até o fim com pelo menos metade de suas tropas vivas, pode-se considerar que ele teve sucesso. Se ele falhar, será obrigado a desistir disso e assumir a posição de uma Brigada padrão.”
“O quê? Mas qual a diferença?”
“Você é idiota?! Uma Brigada Nomeada pode agir com mais independência e escolher seus locais de atuação, sendo convocada apenas quando é absolutamente necessário. Já uma Brigada padrão tem que assumir missões fixas da Legião e servir diretamente sob um Major ou General nas áreas de conflito. A diferença entre as duas é como o céu e a terra. Enquanto uma pode escolher as áreas de atuação mais lucrativas e de menor risco, a outra vai ter que se ferrar em qualquer lugar que precisarem.”
Fernando, que estava prestando atenção às conversas paralelas, tinha uma expressão de surpresa. Por experiência própria, ele sabia que tropas nomeadas eram especiais, mas ele não imaginou que as Brigadas Nomeadas teriam tanta liberdade.
Então o Heitor está fazendo isso? pensou, finalmente entendendo porque o homem estava junto a eles nas Tropas de Exploração.
Ao contemplar algo, olhou para o homem chamado Alonso, um Capitão de uma Brigada Nomeada, e percebeu que se ele quisesse seguir o caminho do verdadeiro poder e independência, teria que trilhar essa mesma rota no futuro!
“Isso mesmo, assim que chegarmos a Garância meu objetivo vai estar cumprido.” Heitor respondeu, sorrindo.
“Então é por isso que alguém favorecido por Wayne está nas Tropas de Exploração, por qual outro motivo um indivíduo como ele estaria em meio aqueles lixos?” Um Capitão de uma Brigada padrão comentou, em ridículo, enquanto olhava para Banjo, Amanda e Fernando.
O Mago Punhos de Ferro olhou para o rapaz negro, então seus dentes se mostraram, quando ele sorriu largamente.
“Desista disso, mesmo que você comece uma Brigada Nomeada, é necessário muitos recursos e apoio para mantê-la. Você deve saber que o General Wayne não vai lhe fornecer tudo isso. No lugar de ter tanta dor de cabeça, por que não se junta a mim? Eu lhe darei três Batalhões e o triplo do salário habitual.”
Ouvindo isso, todos no local ficaram chocados.
Não era incomum que uma Brigada Nomeada contratasse outros Capitães, que ‘abandonariam’ suas posições de origem para assumir cargos especiais na mesma. Eles ainda manteriam sua patente, mas sua autoridade estaria limitada a outro Capitão.
Esta era uma prática pouco bem vista dentro do exército, principalmente devido à constante falta de mão de obra e lideranças, que ficariam acumuladas em pequenos grupos, apesar disso, não era algo que ia contra as regras da Legião. Contanto que tudo fosse feito de forma legal, dificilmente alguém poderia impedir tais práticas.
“Desculpe, mas não vai rolar.” Heitor falou, sua expressão nunca tendo mudado um segundo sequer, como se soubesse desde o início a intenção do homem.
Alonso Allen não pareceu perturbado pela negativa, mas as duas pessoas ao seu lado franzirem a testa, uma mulher jovem e um sujeito careca. Ambos eram Capitães que já faziam parte da Brigada Salazar.
“Entendi, entendi, é uma pena. Quando fiquei sabendo que graças às Tropas de Exploração tínhamos conseguido destruir um acampamento inimigo, eu imediatamente soube que você estava envolvido. Mesmo que não se junte a mim, eu aprecio seus esforços, alguém do seu calibre terá grandes conquistas.”
Quando o homem disse isso, as expressões de Heitor, Amanda e Banjo mudaram.
“Hm? O que foi?” Alonso perguntou, com um rosto aparentemente confuso.
Esse desgraçado! Heitor pensou, irritado.
Era de conhecimento público que não havia sido o Batalhão Amanhecer quem conseguiu as informações, mas o Batalhão Zero. Se ele concordasse com o homem, estaria mentindo publicamente, o que afetaria sua reputação, mas se discordasse, estaria se auto-humilhando, afinal, como um Batalhão qualquer havia feito isso, enquanto ele próprio não conseguiu? Não importa o que dissesse, isso afetaria a fundação da sua Brigada no futuro.
Ele tinha certeza que o sujeito estava fazendo isso de propósito, para humilhá-lo. Apesar disso, não tinha muitas alternativas além de seguir o fluxo.
Se é assim, eu posso pelo menos usar essa oportunidade a meu favor…
“Eu acho que o Mago Punhos de Ferro está se confundindo sobre algo. A pessoa que foi responsável por isso não sou eu, mas ele.” disse, apontando para um rapaz pálido ao seu lado, vestido em armadura totalmente negra com algumas linhas brancas. “Este é meu irmão, Fernando, Tenente do Batalhão Zero.”
Quando as palavras de Heitor soaram, dezenas de olhos voltaram-se para o rapaz pálido.