Knight Of Chaos - Capítulo 452
Bam! Bam! Bam!
Sob os olhos atentos do General Comandante, Wayne, a Terceira e Quarta Divisões avançavam no campo de batalha, pressionando fortemente a Horda Orc, por outro lado, a Segunda Divisão formada por Cavalarias mantinha-se contida, espalhada entre as outras duas Divisões.
De repente, o General fechou o punho direito, onde usava sua Luva Dourada, fazendo com que seus Oficiais de Inteligência passassem rapidamente os comandos às tropas em Terra. Assim que o fez, a enorme linha, com milhares de Soldados, começou a recuar em alta velocidade, enquanto a Cavalaria cobria o recuo, lançando uma rápida investida, esmagando os Orcs que tentavam perseguir.
Essa era uma estratégia denominada de “Maré”, criada pelo próprio Wayne e sendo umas das estratégias que fez seu nome no passado. Nela as tropas atacavam em ondas rápidas e ferozes e rapidamente recuavam em seguida, obrigando os inimigos a persegui-los. Quando o faziam, seriam rapidamente interceptados pelas tropas montadas, arqueiros e magos, já quando não avançavam, davam tempo para os Soldados se prepararem novamente para outra investida.
Alguém leigo poderia dizer que era apenas uma simples tática de ondas Humanas, porém, não era apenas isso. A “Maré” exigia uma coordenação militar extraordinária, onde a cadeia de comando deveria estar totalmente controlada e sintonizada para coordenar as tropas. Se algum ponto demorasse muito a avançar, ou recuasse de forma atrasada, poderia comprometer grande parte da estratégia.
Era por isso que aquele a comandar deveria saber o tempo exato para executar os comandos, sabendo identificar perfeitamente quando as tropas estavam prontas. O que não era fácil, dada a dimensão e quantidade de pessoas envolvidas.
Quando o General abriu o punho novamente, os Oficiais rapidamente passaram as ordens, fazendo com que o exército avançasse novamente, em mais uma onda.
Do outro lado, as tropas Dobats estavam atordoadas, sem saber como reagir às ações dos inimigos. Eles conseguiam se defender relativamente bem das investidas, mas sempre que tentavam perseguir, seriam flanqueados pelas cavalarias, obrigando-os a desistir.
De pé, de forma imponente, olhando para os filhos de seu clã, sendo derrotados pelos artifícios dos Humanos, Augak tinha uma expressão nada satisfeita.
A verdade é que com exceção da tribo Urukkan, os Orcs, em geral, eram péssimos em termos de estratégias militares, dependendo muito mais de suas qualidades gerais, como força, resistência, instinto e números.
Os Humanos, como um dos principais inimigos dos Orcs, tinha pleno conhecimento disso e sempre que podiam, atacavam essa fraqueza. E nesse momento, o Lorde Soberano estava enfrentando justamente um mestre estrategista, Wayne, dos Leões Dourados. Um General cuja reputação e esplendor o faziam ser cotados a ser o General Supremo.
Apesar de sua frustração, Augak não parecia preocupado, por mais que as estratégias do inimigo fossem efetivas, ele sabia que isso não importava. Além disso, a criatura havia percebido algo.
A cada nova “onda” de avanço Humano, eles conseguiam infligir pesadas perdas, mas contanto que as tropas Orcs não perseguissem de volta, as perdas do lado Humano seria equivalente ou até maior que a suas próprias, o que o fez ordenar que seus guerreiros apenas se mantivessem onde estavam.
Sabendo que os números das suas Hordas eram maiores que os exércitos Humanos, Augak estava convicto em sua vitória, fazendo-o lançar um olhar altivo em direção aos fracos Generais Humanos, que se escondiam em meio às suas próprias tropas.
O Lorde Soberano havia deliberadamente provocado os Generais para uma batalha, mas a contra-parte não se atrevia a enfrentá-lo e, por outro lado, o próprio Augak acreditava ser muito abaixo de si próprio, Mestre do Clã, persegui-los em território inimigo.
Isso gerou um sério impasse, onde de um lado estava os Generais Wayne, Zado e Ramon, e do outro, o Lorde Soberano Augak. Cada um aguardando que o outro se movesse primeiro.
Os três homens sabiam que num confronto direto, não teriam grandes chances contra um Soberano, mas contanto que se abrigassem em meio a aliados, poderiam levantar uma resistência à criatura.
Enquanto as Divisões avançavam, causando pesadas baixas nos Orcs, a quantidade de perdas também era alta.
“Se isso continuar desse jeito…” Zado falou, num tom de voz pouco otimista.
Eles já estavam em menor número, se continuassem a sofrer perdas iguais ou maiores que os Orcs, seria apenas questão de tempo até que fossem sobrepujados.
Além disso, havia outro fator. Mesmo que a estratégia de “Maré” do General Comandante funcionasse como uma grande ofensiva, permitindo que lutassem em pé de igualdade contra os Dobats, também drenava rapidamente a resistência das tropas, então era uma faca de dois gumes.
Wayne ficou em silêncio ao ouvir isso, ele, melhor do que ninguém, sabia dos problemas envolvidos. Na verdade, em seus planos iniciais, o homem nunca planejou derrotar o exército central Orc dessa forma.
Conforme o planejamento inicial, a Primeira Divisão, no fronte esquerdo, nesse ponto deveria ter vencido seu lado, esmagando o oponente e lançando uma investida no flanco inimigo. Quando isso acontecesse, o exército central derrubaria o oponente em um poderoso ataque de dois lados. Entretanto, nem tudo saiu como o planejado.
Com a queda do General Kamal da Legião Salamandra e a deserção de Lauren, da Aurora, a Primeira Divisão havia virado uma bagunça completa. Mesmo que ele houvesse enviado Herin, que conseguiu estabilizar a situação, nesse ponto eles haviam perdido qualquer chance de vencer daquele lado.
Apesar disso tudo, Wayne ainda era grato, pois sabia que as coisas poderiam estar muito piores.
Se a Quinta Divisão tivesse sido sacrificada, conforme os planos de Herin, no lugar do inimigo estar sendo flanqueado, eles próprios seriam aqueles sendo atacados de dois lados. Felizmente, de alguma forma, a Quinta Divisão estava resistindo, dando-lhes mais tempo.
“Parece que ele não virá até nós, não importa o quanto provoquemos.” Ramon comentou, olhando para a enorme figura do Lorde Soberano, na retaguarda do exército Orc.
A criatura por si só já era um monstro, então enfrentá-lo em meio a suas tropas seria loucura, era por isso que precisavam fazê-lo atacar primeiro. Usando da força dos vários Majores presentes, junto aos três Generais, era a única chance que tinham de derrubar aquela coisa. Porém, o Lorde parecia se recusar a vir até eles.
“Essa coisa é mais astuta do que parece.” Ramon completou, após ponderar.
“Ou apenas arrogante demais.” Zado falou, parecendo entender o que se passava na cabeça do líder inimigo.
Suspirando enquanto ouvia os comentários dos homens, Wayne decidiu-se.
“Já que é assim, não temos escolha senão dar o primeiro passo.”
Quando o General Comandante disse isso, tanto Zado quanto Ramon o olharam surpresos.
A verdade é que Wayne sabia que não poderia deixar as coisas como estavam. Mesmo que ele tivesse enviado a Brigada Salazar, era incerto por quanto tempo mais a Quinta Divisão poderia resistir. Porém, atualmente o fator mais preocupante era a Primeira Divisão, a qual Herin estava cuidando.
Manter aquele bando de tropas estrangeiras sob controle era algo completamente incerto. Os soldados da Legião Aurora e Salamandra eram maioria depois das Guildas, então sem seus líderes, era muito provável que em algum momento recusassem os comandos dos Leões Dourados e batessem em retirada, ainda mais numa batalha tão acirrada como essa.
Sabendo disso, ele havia decidido fazer seu próximo movimento, mesmo sabendo que suas chances de vitória eram baixas. Era isso ou bater em retirada de mãos vazias, carregando o amargor da derrota, assim como de suas consequências.
Swish! Swish!
Erguendo a mão, Wayne retirou centenas e centenas de espadas, lanças e outras armas variadas. Em poucos instantes o céu foi tomado por esses objetos. Não parando por aí, retirou um estranho pergaminho prateado, rasgando-o. Assim que o fez, uma leve luz prateada adentrou em seu corpo, enquanto seus olhos acendiam, com um brilho roxo, indicando que havia usado algum tipo de Efusão de Mana Elemental.
“V-você, que diabos está fazendo?!” Zado falou, abismado ao ver as ações do sujeito.
A verdade é que por mais que Wayne fosse extremamente competente como um estrategista, comandante e até mesmo articulador politico, sua força estava apenas levemente acima de Generais comuns, sequer sendo proficiente no uso de Orbes do Mago, era por isso que geralmente Zado lidava com coisas relacionadas a força bruta, mas no fim, o sujeito ainda era um General, uma potência, e não poderia ser subestimado.
Atualmente Wayne estava utilizando uma magia de Efusão de Mana Elemental de alto grau, de Magia Magnética, e, ao mesmo tempo, ativou um certo pergaminho raro, de uso único, um recurso incomum e de alto valor chamado de Pergaminho Elemental de Mana. Este item era incrustado com uma poderosa matriz, que aumentava a densidade e poder de todo seu mana por um curto período de tempo, ficando mais compatível com seu elemento dominante.
Era um pergaminho complicado de se achar no mercado, pois apenas Mestres de Matrizes eram capazes de criar um item como esse, que fosse capaz de reforçar um General. Entretanto, por mais que ajudasse a melhorar o Mana Elemental do usuário e sua densidade, também vinha com um pesado preço.
Enquanto um poderoso mana pulsava do corpo de Wayne e seus olhos roxos brilhavam intensamente, as veias de seu rosto saltaram, contorcendo-se.
A Matriz do Pergaminho de Mana Elemental não era algo natural, forçando o estado do corpo a assumir um mana com o qual não estava acostumado. Muitas pessoas poderiam até morrer devido ao choque e mesmo que não morressem, seriam seriamente feridas. Era por isso que Zado não ficou nenhum pouco contente ao vê-lo assumir tal risco.
Quando o sujeito estava prestes a dizer algo, Wayne o interrompeu:
“Quando se chega no fundo do poço, as únicas alternativas que restam é subir ou cavar ainda mais fundo.” falou, com um leve sorriso calmo, apesar do estado em que estava.
Ramon parecia assustado ao ver isso, se acontecesse algo com Wayne, mesmo que eles de alguma forma vencessem, não teriam nenhum nome forte o bastante para contrapor o General Supremo Dimas, o que tornaria toda essa campanha inútil.
Por outro lado, Zado, antes assustado, sorriu ao ouvir isso, enquanto seus olhos se arregalaram ainda mais que o normal.
“Hahahaha, você está certo como sempre.” disse, retirando uma espada com seu único braço restante. “Mesmo se eu morrer, vou pelo menos arrancar um pedaço daquele desgraçado!”
Ao ver que ambos os homens estavam decididos, Ramon franziu a testa, ainda assustado. Seu olhar se voltando para o Soberano, ao longe, em meio as Hordas de Orcs.
Ao menos temos alguma chance contra esse monstro?
Apesar de relutante, ele sabia que não havia mais espaço para recuar, todas suas fichas haviam sido colocadas nessa aposta.
Wayne logo ergueu a palma e as centenas de armas moveram-se em conjunto, chamando a atenção de Humanos e Orcs.
As tropas abaixo, em especial, ficaram animadas, finalmente os Generais estavam se movendo!
Do outro lado, no campo Dobat, a expressão de Augak era de interesse, quando a criatura deu um passo a frente, com seu enorme corpo. Ele não estava interessado em caçar os Generais Humanos em seu campo, mas a situação seria completamente diferente se eles se atrevessem a desafiá-lo.
Zooom!
De repente, as centenas de armas moveram-se ao mesmo tempo, enquanto a palma de Wayne avançava como uma garra.
A linha de frente dos Dobats só pôde observar, enquanto as armas se aproximavam.
Swish! Swish! Swish!
Lanças, espadas, glaives e diversas outras armas caíram sobre as criaturas, atravessando-os facilmente e cravando-se ao chão, com alguns conseguindo defender-se no último instante, rebatendo as armas, imbuídas num poderoso mana.
“Avancem!” Ramon ordenou em direção aos Oficiais de Inteligência, para repassarem as ordens.
Se eles iriam lutar, precisavam das tropas em terra, garantindo a atenção dos inimigos rasos.
Swish! Corta! Perfura!
Wayne ergueu novamente a mão, fazendo com que todas as armas dispersas no campo corressem novamente para o alto, pegando vários Orcs desavisados de surpresa.
Com seu controle e mana normais, seria difícil manipular tantas armas com precisão ao mesmo tempo, normalmente ele perderia o controle e conexão sobre muitas delas, mas com sua Efusão de Mana ativa e o pergaminho, tudo se tornou mais fácil, fazendo com que ele recuperasse a maioria das armas.
Zado, ao notar o movimento de Augak, se preparou, Ramon ao lado também parecia pronto. Os Majores Combatentes, espalhados por todos os lados, começaram a se reunir no ar ao redor do trio, enquanto avançavam lentamente para frente, com o General Comandante ao centro, criando uma formação aérea visualmente incrível.
Do outro lado, as tropas Orcs pareciam muito mais desorganizadas, mas na realidade, em meio a toda a bagunça, com Dobats correndo para lá e para cá, havia dezenas de Orcs Líderes se reunindo nos arredores de seu Mestre de Clã, prontos para enfrentar os Humanos. Aquele seria o confronto derradeiro, que decidiria o vencedor dessa batalha.
…
Enquanto milhares de indivíduos se moviam na terra e ar, prontos para se confrontarem, uma figura, no alto dos céus, observava tudo com olhos enojados. Era um Alto Elfo, de cabelos loiros compridos e rosto esbelto, apesar de sua beleza refinada, sua armadura prateada dava-lhe um ar imponente.
“Quanto mais vocês se matarem, melhor para meu povo.” disse consigo mesmo, com um semblante satisfeito, mas logo sua expressão mudou para desgosto. “Se não fosse pelas ordens…”
A contragosto, acenou com sua mão, então seus olhos acenderam-se, com um brilho azul cristalino. Logo as nuvens ao seu redor, que eram tão brancas quanto a neve, começaram a escurecer, ficando carregadas de energia e mana.
Inicialmente eram poucas nuvens, mas em poucos instantes, aquele denso mana espalhou-se discretamente pelo vasto céu, tomando tudo silenciosamente.
…
Acima da Terceira Divisão, os três Generais avançaram, com os vários Majores numa poderosa formação de guerra, seus olhos e expressões ferozes, sabendo o que enfrentam.
Contudo, de repente, Wayne, Ramon e Zado pararam no ar, fazendo com que os vários Majores olhassem em sua direção, confusos.
A expressão dos três homens, que outrora era de determinação, de colocar sua vida em risco, tornou-se tensa, quando começaram a suar frio.
Para pessoas comuns era difícil de notar o fraco e sutil mana, que estava invadindo todo o local, mas para eles, Generais, era tão claro quanto o dia. Sem pensar duas vezes, olharam para o alto, então sentiram uma sensação gelada em seus rostos, quando pingos de chuva respingaram.
Mesmo que vago e distante, era possível ver uma figura, imponente, com cabelos loiros, descendo. Quando finalmente puderam distingui-la, suas expressões imediatamente escureceram.
“Os Altos Elfos estão aqui!” Ramon gritou, num tom de voz incrédulo.
Apesar de não verbalizar nada, tanto Zado, quanto Wayne, estavam igualmente chocados e aterrorizados.
No lado do campo Orc, a expressão de Augak, o Lorde Dobat Soberano, também mudou.
“Eu, Calima, Arandur, em nome da rainha, declaro que Humanos e Orcs se submetam!”
A voz ecoou por todo o campo de batalha, podendo ser ouvida desde a Primeira, até a Quinta Divisão. Não só isso, como soava de uma forma estranha, com um leve eco, que retumbava em um idioma desconhecido para os Humanos, mas que para aqueles que entendiam um pouco, sabiam que se tratava da linguagem Orc.
Era um anúncio, uma declaração, expressado em direção a ambas as raças.