Sua Alma Amada - Capítulo 20
Esse simples momento foi extremamente reconfortante para Zac, que conseguiu se organizar mentalmente e colocar tudo no lugar. Após se lavar ele pega a sacola e tira de dentro dela uma toalha, feita de algodão egípcio, com ela se seca e a maciez lhe remete ao passado.
Em que alguém o colocava no colo e com uma toalha tão macia quanto essa, e com ela secava seu rosto. Novamente ele se lembra do sorriso de uma mulher, um rosto meigo e gentil, seus olhos na cor azul se destacavam em sua memória. Mais distante Zac lembra que ouvia um choro de bebê, e o rosto da mulher mudava completamente, a face meiga e gentil saíam de cena e davam origem a um olhar raivoso e irritado.
Zac esquece do tempo e fica viajando em seus pensamentos, no tempo que ficou ali ele poderia ter se secado umas 10 vezes. Mas não, ele simplesmente não viu o tempo passar, só que subitamente ele volta para si quando ouve alguém batendo na porta e dizendo:
— Acabou aí Zac? Terminei de me arrumar e estou te esperando — fala Kyron que já tinha terminado de se arrumar fazia um bom tempo, mas esperou um pouco para que Zac pudesse se recompor antes de ir.
— Estou acabando aqui, já estou indo.
Ele então se apressa, tira da sacola três peças de roupa, uma camisa de manga comprida e uma calça, ambas na coloração bege, a terceira peça que ele tira é um sobretudo que ele nunca viu na vida.
Zac coloca a camisa e calça, ele então percebe que há algumas coisas escritas em sua roupa, e que elas brilham em uma coloração dourada. Ele então pega o sobretudo que é dividido em camadas, como se fosse uma rosa, onde cada camada representa uma pétala, e com muita dificuldade ele coloca a roupa.
O sobretudo da mesma coloração que as outras pessoas, porém entre as camadas há algumas bainhas feitas de uma mistura entre linho e ouro, formando linhas douradas. Zac percebe que na parte superior há uma espécie de capuz e uma balaclava para proteger seu rosto, coisa que ele acha muito da hora e já coloca e vai direto no espelho dar uma olhada.
— Caraca que parada maneira, o Dio não ia gostar nem um pouco de usar isso hehe. Quando voltar vou dar presente, mas por enquanto vou aproveitar, me caiu muito bem.
Zac coloca seu colar para fora, só que ele está sentindo uma certa dificuldade em usar suas mãos. Pois a roupa acaba limitando sua movimentação, mas com muita força ele consegue pegar sua bolsa e colocar da maneira que ele gosta de usar.
Com medo de atrasar ele sai do banheiro para encontrar seu professor, enquanto caminha ele percebe que mesmo usando uma roupa mais pesada, seu corpo está fresquinho, mais fresco do que antes.
Kyron olha para Zac chegando e solta uma boa risada ao ver seu aluno, pois está claro que ele fez algo de errado e até seu caminhar está sendo prejudicado por causa da roupa.
— Oh Zac, você tá bem? — questiona Kyron enquanto coloca a mão na frente da sua boca para evitar que o som da sua risada seja ouvida por seu pupilo.
— Tô sim Kyron, só achei um pouco estranho — nesse momento a ficha de Zac começa a cair, pois ele vê claramente que a roupa está diferente do seu professor.
— Zac primeiramente tira esse capuz, isso é lá para fora, não vamos precisar dela aqui hehe.
Obedecendo seu professor ele tira o capuz e a balaclava, mas ainda assim tem algo de diferente, pois Kyron não parece ter seus movimentos limitados pela roupa.
— Zac faz um favor para mim, tente levantar as sua mãos para cima, quero ver uma coisa.
A pedido do seu professor ele tenta levantar suas mãos porém por causa do sobretudo ele não consegue e acaba soerguendo sua roupa e mostrando a parte de baixo.
— Minha intuição me dizia que isso iria acontecer, desculpa pela rizada. Então na parte de cima, entre uma camada e outra, tem um espaço para passar o braço.
Com uma cara de paisagem e de sem graça, ele percebe esses furos e consegue passar seus braços, que ficam semiencobertos pela camada, mas caso precise movimentar ele conseguirá sem que seu movimento seja limitado.
— Agora sim, podemos ir Zac? Tudo tranquilo com você? Sobre alimentação e bebida pode ficar tranquilo só me pedir quando tiver necessidade.
— Estou sim, bem melhor agora, ter tomado esse banho lavou minha alma. Ahhh professor tem algo que queria gostaria de perguntar, na verdade duas coisas.
— Fique a vontade para perguntar, como falei não não precisa me chamar de professor.
— Verdade, desculpa Kyron. Então, gostaria de saber o porquê dessa roupa, e a segunda pergunta também é sobre ela. Eu notei algumas coisas brilhando e percebi que estou me sentindo mais refrescado agora do que quando estava com a roupa da academia.
— Você deve lembrar que Uranos é dívida em cinco capitais e academia fica em Pandeia, nós vamos para além das fronteiras, passaremos pelo deserto, onde é a capital das vendas e da diversão, essa capital é famosa pelas especiarias, tecidos e acessórios. Lá é basicamente um Oasis.
— O Dio já comentou comigo que ia lá com a sua família quando criança, porém ele nunca mais voltou.
— Então eles são especialistas na indústria têxtil, tudo que você está usando foi produzido por eles e vamos precisar passar por esse deserto, melhor vamos para além dele. E lá ocorre gigantescas tempestades de areia.
— Ahhh agora o capuz faz mais sentido.
— Exatamente, outra coisa que você percebi são as inscrições em suas roupas. Esse foi um pedido da Flora para o professor Potifha que colocou alguns encantamentos. Não vou lembrar de todos, porém sei que há um encantamento capaz de nos refrescar.
— Ahh que legal, tô doido para experimentar esses encantamentos — fala enquanto passa sua mão nas suas roupas encantadas.
Em seu pensamento, Zac começa a se questionar se vai deixar essas roupas com o Dio quando ele voltar.
— Zac vamos por ali, estamos atrasados. O guia está nos esperando, e tenho que te fazer um pedido.
Kyron começa a caminhar e Zac para não ficar atrás da uma adiantado, e quando fica lado a lado de seu professor olha para ele e diz:
— Pode fazer o pedido.
— Então, o nosso guia é um pouco atípico, então evite qualquer brincadeira ou piadas. Até mesmo fazer questionamentos para ele.
Zac não entende muito bem o porquê seu professor está falando isso com ele, porém ele firma um acordo com seu professor após balançar sua cabeça positivamente.
Após alguns passos ele chegam na porta, que era exatamente igual a porta que Zac passou quando entrou na academia pela primeira vez, não destoando nem um pouco da porta de entrada para a porta dos fundos.
Kyron pega uma espécie de credencial que ao encostar na porta faz com que ela abra e os dois possam passar. No momento que eles se movimentam para passar pela porta, uma planta surge bem na frente deles e dentro da planta é possível ver um envelope, Kyron pega e o guarda em sua mochila.
Kyron fica parado na porta e faz um movimento para que Zac possa passar, entretanto Zac demora alguns segundos para entender e quando se toca ele começa a andar, até da uma corrida para adiantar.
O céu está mais belo do que nunca, novamente Zac observa a beleza de Uranos, em específico de Paideia, a capital do ensino.
Assim como na entrada, a parte da saída também possui pastos verdejantes, diversas flores na coloração azul, pequenos arbustos muito bem podados. Mas algo chama atenção de Zac, eles veem uma grande movimentação de soldados passando.
Uma silhueta lhe chama atenção, um rapaz de cabelos vermelhos e vestindo a roupa da academia era levado por alguns soldados até uma carroça branca. Carroça essa que é levada por dois cavalos, os mais belos que Zac já viu, e na parte de trás da carroça da carroça é possível ver um símbolo de Sol.
“Após esmagada, a uva que outrora era doce, passa por um processo doloroso, onde o açúcar presente no suco da fruta é transformado em álcool que agora passa ter um sabor amargo e esse processo chamamos de FERMENTAÇÃO.”
Zac engole seco e ao olhar para o outro lado vê uma cena um pouco diferente, ele vê um rapaz que destoa bastante do que se vê em Uranos.
Kyron passa por Zac, bate em suas costas, a porta da academia se fecha e ele diz:
— Vamos, o nosso guia está ali na frente.
Eles se aproximam desse rapaz um bocado diferente, pois ele é um homem usando uma roupa preta, semelhante há de um monge, porém muito batida e desgastado, cheia de poeia, por cima ele usa um blazer marrom escuro bem surrado e cheio de avarias, e dela é conectada um capuz marrom.
Zac também consegue observar que esse rapaz tem uma linha preta pintada na direção de seus olhos de forma transversal e isso gera alguns questionamentos.
Antes de chegarem próximos dele, com os olhos fechados o rapaz levanta sua fronte e com um tom de voz aveludado aponta para Kyron dizendo:
— Kyron, Kyron perdeu as horas? Logo você atrasado?
— Thome meu amigo, você sempre está de olho em tudo né? Tive que resolver algumas coisas.
Ambos sorriem um para o outro, mas Zac está questionando porque enquanto eles conversam, ele não vê o Thome abrir os olhos em nenhum momento. Se aproximando um pouco mais, Zac continua a observar e vê que o rapaz é bem alto, e deve ter mais ou menos 1 metro e 85 centímetros. E em suas costas havia um instrumento de cordas, para ser mais específico ele levava um contrabaixo como se fosse uma mochila.
— Então esse é o rapaz, certo? Bem que você disse, ele possui um som diferente.
— Eu te falei, esse rapaz possui algo diferente, Thome.
Zac fica só observando a conversa entre os dois e o seu rosto claramente denota questionamento, mas ele lembra do pedido de seu professor. Então permanece em silêncio sem fazer nenhuma pergunta.
— Então você é o Zac, prazer te conhecer. Sou Thome, vou guiar vocês nessa longa jornada — mas enquanto fala, Thome não expressa nenhuma reação facial e seus olhos continuam fechados, gerando uma certa inquietação no Zac.
Kyron percebe a inquietação do jovem, coloca sua mão no rosto, esfrega seus olhos, dá um suspiro e com um olhar de desânimo bufa, pois sabe que algo vai acontecer e ele só queria partir logo.
— Que inquietação é essa? Consigo ouvir o barulho do seu coração bater acelerado. Imagino que Kyron tenha pedido para não me perguntar nada, mas fique a vontade.
— Então, como dizer, porque você não abre o olho? Nunca vi ninguém assim, sem falar dessa listra pintada, não me leve a mal, ela é muito dahora, mas é estranha. Ainda tem esse instrumento nas costas que já vi o pessoal tocando, não é pesado não? Nossa viagem é longa.
— Bem observador o garotinho hein Kyron, gostei dele, esse é dos meus. Então, eu não abro os meus olhos pois não muda nada se estão abertos ou fechados.
— Como assim, você é nosso guia, é importante que você veja o caminho — indagou Zac com um olhar de desconfiança.
— Hehe, então rapaz, eu não enxergo nada, meu olhos não funcionam, quando criança até que eu via uma coisa ali outra acolá, mas com o tempo comecei a não ver mais nada. A única coisa que sei fazer é ouvir.
Zac até pensa em questionar mas lembra o que fez estar aqui, já que agir com imprudência gerou muitos males para ele e seu amigo.
— Não que duvide de você, só fiquei curioso, mas se o professor, quer dizer Kyron, me disse que você é nosso guia, eu confio nele.
— Uau, me surpreendeu, o primeiro questionamento que as pessoas pensam é como pode um um cego guiar outro cego, né? Ambos vão cair num buraco, errado não estão, mas na jornada que vamos entrar, seus olhos não possuem importância alguma, pois o que vai te guiar é o seu coração.
Kyron até que se surpreende com todo o diálogo entre os dois, Zac então fica ainda mais encantado ao ouvir tais palavras, ele anseia por mais, seu rosto externa que ele deseja ouvir um pouco mais do que Thome tem para contar.
— Hehe, vejo que está ansioso por ouvir minha história, mas teremos um longo caminho. E com isso muita história para contar.