Trupe Elemental - Capítulo 82
E mais uma vez a chama se ergue, e com elas seus leais seguidores transmitem seus pensamentos entre si, sem que tolos impuros possam ouvir e se apoderar de suas futuras conquistas e dominações. Tolos estes, que presos ao passado, que creem em uma hegemonia sem sentido, que levará este mundo a sua destruição.
— Como está o andamento de nossos planos? Eu não tenho ouvido nenhuma palavra dele desde a última vez que entramos em contato. — Um deles disse.
— Tudo está ocorrendo conforme o planejado. Pelas minhas previsões, Hector deve estar chegando neste exato momento à capital de Dynarose, para realizar a próxima etapa que precisamos… — O outro respondeu.
— Eu espero que assim seja. Nosso senhor já esperou por tempo o bastante, eu gostaria que isso fosse finalizado o quanto antes. Acredite em mim, você não irá querer vê-lo perder a paciência. Eu estarei me retirando por hoje. — Ele comentou.
E quando a chama se extinguiu, a profecia se concretizou. Hector havia chegado aos portões da grande capital do reino de Dynarose, a cidade conhecida como o centro elemental do continente. Tudo que você precisa está aqui, e se há algo que não há, muito provavelmente não existe. É o que dizem os mais sábios sobre o lugar. Basta saber o que e com quem perguntar, e você encontrará o que procura.
— Hmph, finalmente cheguei aqui… Agora só preciso encontrá-lo, deixa eu ver onde que era para eu ir… — Sussurrou Hector para si mesmo, na entrada da capital.
— Vejamos… “Biblioteca na rua principal, perguntar ao recepcionista pelo livro “Terra Chamuscada” ele saberá do que se trata.” É o que diz o bilhete… — Olhando para o pequeno pedaço de papel que ele tinha em mãos.
— Ah, que seja, vamos lá… — Ele disse, entrando na cidade.
Nas ruas da grande capital, Hector observa o grande tráfego de pessoas, o barulho das lojas e seus clientes, como também o cheiro vindo das tavernas. O lugar é abarrotado de vozes por todos os lados, o que o incomoda. Hector apressa os seus passos para encontrar o lugar mencionado o mais rápido possível. E logo mais a frente ele a encontra. Uma antiga biblioteca em uma encruzilhada.
Entrando no lugar, parece que está vazio, sem ninguém além dos milhares de livros amostra nas prateleiras e de um estrondoso silêncio. Hector ficou se perguntando como que aquilo era possível? Um lugar tão silencioso em meio a todo aquele barulho que acontece do lado de fora. Sem perder tempo, ele se aproxima do balcão mas não encontra ninguém atrás dele.
— Olá? Tem alguém aqui? Eu vim atrás de um livro… — Ele disse.
Esperando no balcão, Hector escuta um pequeno barulho vindo dos fundos, e poucos segundos depois um homem alguns anos mais velho que ele aparece para atendê-lo, ele se apresenta como o dono da biblioteca.
— Ora, que maravilha! Um cliente! Bem-vindo a minha biblioteca, em que posso ajudá-lo hoje, meu jovem? — Ele disse.
— Livros de história? Culinária? Ou até mesmo dos famosos heróis? Eu tenho todos eles! Também aceito encomendas, o melhor serviço da capital para nossos fiéis clientes. Pode me perguntar qualquer coisa. — Completou.
— Não, obrigado. Estou atrás de um livro específico, ele se chama Terra Chamuscada, você o tem? — Hector perguntou.
Quando o homem ouviu Hector perguntar sobre o livro mencionado, seu olhar simpático ficou mais sério e ele mudou seu tom de voz. Agora ele tinha certeza de que Hector era a pessoa certa que ele estava esperando conforme lhe foi combinado anteriormente no bilhete.
— Ah! Vejo que mesmo tão jovem, o senhor é um colecionador das artes finas da literatura. Sabe, meu rapaz, não são todas as pessoas que sabem reconhecer e apreciar um bom livro quando o encontram. Mas você leva jeito para isso. Muito bem, siga-me. O levarei até o que procura. — O homem respondeu.
Sem dizer nada, Hector acompanhou o homem até os fundos da biblioteca. Depois de passar por várias prateleiras lotadas de livros e pergaminhos dos mais diversos assuntos, eles chegam até uma prateleira coberta por um pano. O homem retira o pano empoeirado e pega um dos livros que está nela. Um mecanismo pode ser ouvido atrás da prateleira e ela começa a se mexer para o lado, revelando uma passagem secreta. Uma escada que leva para um andar inferior da biblioteca.
— Bem, aí está. E aqui está o seu livro, Terra Chamuscada, uma relíquia erodida pelo tempo. Cuide bem dele, meu rapaz. Ele disse que está lhe esperando lá embaixo, diga a ele que eu o dou meus cumprimentos. — O homem disse.
— Pode deixar comigo… Obrigado por me ajudar. — Hector.
— Não há de que, meu jovem! Sempre o melhor serviço para nossos fiéis clientes! Volte sempre que precisar de um bom livro, estarei te esperando para o nosso próximo grande negócio! — Ele disse com aquele tom de voz simpático de antes.
Hector estava um pouco desconfiado, mas não disse nada para não comprometer o que ele tinha que fazer ali. Sem perder tempo ele desceu as escadas, chegando no fundo, um lampião aceso o aguardava. Ele o pegou e foi andando mais adiante, era um corredor longo e bastante escuro, mesmo com a luz que o lampião tinha. No fim do corredor havia uma porta com um buraco no meio, no formato de um livro. Hector colocou no buraco o livro que havia acabado de conseguir e a porta se abriu. E quem estava lá dentro o esperando era um de seus mentores, Cyrus Spellbane.
— Ah, finalmente você chegou, Hector. Já estava começando a imaginar que tinha se esquecido do nosso acordo. — Disse Cyrus.
— Jamais, mestre Cyrus. Farei de tudo ao meu alcance para que possamos alcançar nossos objetivos! Trouxe tudo que o senhor me pediu.— Hector respondeu.
— Muito bom, muito bom… Você conseguiu o livro que eu mencionei naquele bilhete? Vamos precisar dele para o que faremos hoje. — Cyrus perguntou.
— Sim! Eu acabei de conseguí-lo, exatamente como o senhor me instruiu! Só não entendi muito bem o porquê precisamos deste livro. E afinal, quem é aquele homem com quem me encontrei antes? Ele não parece ser… — Disse Hector.
— Ah, ele? Não se preocupe, ele é apenas uma das minhas ferramentas. Ele não irá nos atrapalhar, confie em mim. — Cyrus respondeu.
— Agora, sobre o livro… Bem, não é um livro comum e sim um grimório. Um grimório muito antigo, nós vamos utilizar uma das magias que ele contém para nos ajudar na próxima etapa do plano de nosso grande senhor. Me entregue-o, estaremos partindo assim que eu terminar isso daqui. — Cyrus completou.
Assim Hector entregou o livro que havia conseguido para Cyrus. Enquanto ele terminava o que tinha para fazer, Hector ficou pensando consigo mesmo o que ele quis dizer com “apenas uma das minhas ferramentas” e se ele também representava isso para ele. Hector estava começando a se questionar se tudo aquilo que ele estava fazendo era realmente necessário e se era certo.
— Bem, estou pronto. Vamos. — Disse Cyrus, atravessando a parede da sala.
Vendo aquilo, Hector arregalou seus olhos em espanto, Cyrus simplesmente havia entrado e passado por dentro de uma parede de pedra bem diante dele. Algo que ele nunca tinha visto antes. Ele ficou impressionado e ao mesmo tempo confuso. Já que Cyrus havia passado por ali, deveria ser apenas uma magia, e que ele também deveria tentar. Com isso ele chegou do outro lado, no que parecia ser os subterrâneos da capital.
— Hum, o que foi? Se assustou? É apenas uma parede falsa. Aquele homem que você encontrou antes é um mestre das ilusões. Ele consegue fazer essas coisas com muita facilidade. Por isso eu confio nele para esse tipo de coisa. — Cyrus explicou.
— Ah, eu entendo agora. Talvez isso explique o motivo de sua loja ser tão silenciosa, mesmo que do lado de fora esteja com muito barulho… — Hector respondeu.
— Sim, é isso mesmo. Agora vamos, não podemos mais perder tempo parados aqui, precisamos chegar até o centro deste lugar. — Disse Cyrus.
Enquanto caminham até o local mencionado por Cyrus, Hector o questiona sobre o que vieram fazer ali, logo no maior lugar com concentração de pessoas de todo o Hemisfério Norte. Hector estava preocupado se algo desse errado com o plano deles.
— Se me permite, o que vamos fazer aqui exatamente, mestre Cyrus? Esse lugar parece idêntico ao subterrâneo da Cidadela. — Hector perguntou.
— Hã? Eu achei que você estivesse ciente. Enfim, nós vamos fazer algo parecido com o que aconteceu na Cidadela, porém um pouquinho diferente. Desta vez não iremos utilizar nenhuma força bruta ou algo do tipo. Desta vez o tempo é o nosso maior aliado, com este grimório seremos capazes de estabelecer uma poderosa magia aqui embaixo no subterrâneo. — Cyrus explicou.
— Utilizaremos uma magia antiga que é capaz de drenar a energia vital dos seres vivos ao redor, e depois vamos transferi-la para o Mundo Espiritual, assim poderemos carregar a energia contida nas pedras elementais. Quanto mais pessoas, mais rápido será o processo de carga das delas, hehehe. — Completou.