Uma Nova Lenda Surge - Capítulo 27
O sol volta a surgir no céu, junto de três fortes batidas sendo dadas na porta do quarto.
Levanto-me e sigo limpando os meus olhos até a porta, enquanto ouvia os berros dos alunos desesperados para não se atrasar.
Abro calmamente a porta, enquanto ouço os sussurros da Kashisujo me chamando em seus sonhos, do outro lado uma jovem trajada em roupas vermelhas com o mesmo designe do uniforme que surrupiamos na tarde anterior.
— Sim? O que deseja? — Falo entre um bocejo.
— Sou Sainersh, e ficarei responsável por vocês durante esse ano, espero que possamos nos dar bem.
— Sainersh… — Esse nome não me era estranho, talvez fosse de alguém que conheci em uma de minhas vidas passadas. — Prazer, acho que sabe qual é o nosso nome, então pularei a parte das apresentações.
— Ótimo, pois não temos tempo a perder, por sinal poderia acordar a sua irmã?
— Não… Como você disse não temos tempo a perder, por isso irei me trocar e seguimos adiante mesmo sem ela.
— Agora mais essa? Nem para ser útil você serve… Me de licença! — Ela fala me tirando da frente da porta e seguindo para dentro do quarto. — Se quer que algo de certo faça você mesmo.
Ignoro as duas, e pego as roupas que deixei encima da cadeira na noite anterior, retiro as calças vestindo a do uniforme e coloco sobre o meu peito a camisa e depois o agasalho branco do uniforme.
— Já estou pronto para partimos. — Falo observando a criança manhosa não querendo sair de seu mundo de sonhos e a adolescente responsável tentando faze-la retornar a realidade.
— Volte para a realidade logo, se não iremos nos atrasar! — Sainersh me encara esperançosa de que receberia ajuda.
— Desiste logo, ela não irá acordar tão cedo.
Mesmo sem saber muito sobre a espada eu tinha certeza de apenas uma coisa, foram milênios até ela acordar novamente, o que faz com que ela ainda não esteja acostumada com poucas horas de sono.
— Certo! Vamos indo, não quero chegar atrasada.
Bufando, a jovem garota de cabelos dourado que dançava em meio aos seus passos, segue para os corredores do dormitório, onde outras pessoas da mesma idade dela corriam de um lado para o outro.
Meninos ajeitando suas gravatas tropeçando em meio ao corredor, meninas com o laço caindo de suas golas, uma verdadeira confusão de pessoas correndo de um lado a outro.
— Como demoramos pularei a parte do café da manhã e o levarei direto para a sala, você está com o seu material certo?
— Na verdade não, não tive tempo para comprar um livro e pena para realizar as anotações necessárias.
— Eu te dou uma de minhas folhas e divido minha tinta com você… Só vamos logo.
Seguimos em meio aquela confusão se esquivando das confusões causadas pelos demais alunos da instituição que obstruíam a pequena passagem.
Fora do prédio podia se ver a organização dos jovens, todos em fila, marchando praticamente para dentro da instituição. Todos com suas roupas ajeitadas corretamente, de forma perfeccionista.
Seguimos para dentro em meio aos grandes corredores do local, até chegarmos a uma das portas, do lado de dentro poderia se ver vários jovens se organizando em seus grupos, trocando olhares enquanto observavam eu junto da Sainersh.
A sala era grande tanto em comprimento, largura e altura, tinha uma zona reservada para o palestrante e as mesas dos ouvintes seguia em meio a uma escadaria de cinco níveis, tudo feito em madeira de cedro.
Seguimos até o quinto andar das mesas, nos sentando na quinta ao lado da janela. Quando nos sentamos em fim os olhares curiosos pararam por um instante, e risadas junto de cochichos tomam o seu lugar.
— O que eles têm?
— Não se preocupe, sempre quando tem alguém novo acontece esse alvoroço, alguns possuem medo de novos alunos e outros curiosos.
— Medo? Por que teriam medo de alguém novo?
— Por causa da guerra dos Deuses, eles temem por suas vidas, mas eu não sou contra refugiados, eu os recebo de braços abertos apesar dos problemas que eles podem causar.
— Entendo… O que você acha sobre a guerra?
— Uma perda de tempo, afinal, somos feitos de peões por seres gigantes que se escondem em seus grandes palácios sobre as nuvens, acho que eles sequer sabem sobre o sofrimento que causam as pessoas.
— Realmente… Mas no final estamos aqui, certo? Sobre a vontade deles.
— Sim, os jovens são treinados aqui para se tornarem guerreiros verdadeiros, tudo por causa de uma guerra estupida.
— Mas será que as coisas seriam diferentes sem os deuses?
— Provavelmente não, afinal sempre terá um líder, e esse líder sempre irá buscar por mais poder…
No final, os humanos são cientes de suas próprias capacidades e sabem que não são diferentes das divindades que tanto adoram, no final somos todos pecadores que seguem cegamente uma justiça que já morreu.
Passa alguns minutos mais em silencio nós dois, até que por fim a Kashisujo entra correndo dentro da sala, todos param e ficam olhando para ela, com olhares assustados.
— Ai esta você! — Ela grita quebrando o silencio e apontando para mim. — Você não sabe o problema que tive para te achar!
Eu ignoro a confusão causada por ela, enquanto observava calmamente os pássaros juntos das nuvens no céu limpo e azulado. Ela vem caminhando calmamente até chegar ao meu lado e fixar os olhos com ódio na Sainersh.
— E quem é essa?! Tirei os olhos de você por alguns minutos e já está com outra?!
— Ela é Sainersh a nossa guia, que ficou meia hora tentando te acordar, algo que claramente não aconteceu.
— Então você foi a que ficou responsável por nós?
— Sim, é um prazer te conhecer senhorita Karynan, fico feliz em ver que chegou a tempo.
— Me desculpe pela inconveniência dessa manhã.
— Na próxima acorde na hora para não termos esse problema novamente, agora por favor se sente, logo a aula irá iniciar.
— Certo…
A Kashisujo se senta ao meu lado e a tenção da turma logo baixa, não é de se surpreender, pois dois estranhos causa tamanho tumulto dentro de um ambiente que na teoria era para ser pacifico.
As conversas voltam, mas não demora muito até que um dos anjos entrasse na sala para lecionar.
— Vejo que todos estão aqui, inclusive Marshow e Karynan, os novos alunos que estarão conosco nos próximos dias, espero que todos possam se dar bem. Agora prosseguindo com o assunto de ontem…
Interessante… Não havia mais duvidas, esse lugar foi exclusivamente feito para criar soldados na nova geração, todos os dias era lecionada as matérias, vendo que o dia anterior era visto como um dia de folga.
Na lousa era escrito e representado em imagens a forma inicial do universo, algo que lembra a uma esfera de energia pura e plena, com os três anéis da verdade rotacionando ela.
Cada anel possuía uma função em seu principio e ordem.
O primeiro anel conhecido como o mais velho é o do tempo, traduzido da palavra Igchitaka vinda do Lamanianco também conhecida como a linguagem das origens.
O segundo anel conhecido como o viajante é o do espaço, traduzido da palavra Jonuamochi e assim como o outro vem do Lamanianco.
O terceiro anel conhecido como o da existência é o da criação, traduzido da palavra Cassamanin também vindo do Lamanianco.
A união entre os anéis faz o mundo e a vida como conhecemos, separados eles não fazem muita diferença, por isso a união entre os seres e os elementos é essencial para a vida.
Uma antiga teoria escrito pelo filosofo Paratig durante o período da guerra cinza, tratava sobre a essência do ser em meio aos paradigmas da vida e da morte perante as energias.
Infelizmente nunca tive a oportunidade de me aprofundar em seus estudos sobre o universo, mas talvez seja a hora perfeita de ler algo sobre ele…
— Alguém saberia me dizer o porquê dos antigos estudarem os três anéis da existência? — O Corvo fala procurando com os olhos alguém para responder.
Um dos alunos se levanta de seu assento e se dispõem a responder:
— Lendas dizem que os anéis estão ligados a origem do Universo da qual, muitos crentes chamam de “Verdade”.
— Exatamente, entre os “Sete”, Kardurins se destacou estudando sobre a “Verdade” em nosso plano, o que acabou por causar muitos danos ao Universo em si.
— Isso quer dizer que ele errou ao tentar fazer essa busca? — Uma das alunas fala, após levantar a mão.
— Não, pelo contrario, apesar dos danos causados, a pesquisa realizada por sua equipe auxilio na reconstrução de mundos perdidos em meio à guerra e criou uma nova luz para muitas raças, no entanto foi tudo realizado de forma imparcial a ele.
De certa forma esse Corvo possuía a razão, realmente eu ignorei as vidas perdidas e os mundos destruídos, mas foi um ato necessário, dei as ferramentas para eles crescerem e transcenderem para que não ficassem presos a uma necessidade de proteção vinda de algo maior.
Mas se eu tivesse auxiliado diretamente, talvez eu pudesse ter um grande exercito em minhas mãos e terras que seguem até o fim do horizonte, mas isso só traria maiores complicações para a minha vida…
— Mas o Universo não retornara mais a sua forma original, como já foi prescrito pelo historiador Ragmof: “O mundo gira entorno do eixo da existência, que oscila a cada passo dado pelos gigantes que nos rodeiam, criando montanhas e oceanos a sua volta.”
O eixo da existência, algo que se aparenta com um pilar ligado as engrenagens do Universo, e sempre que esse pilar move-se ele gira cada uma das engrenagens sem exceção, fazendo assim com que a natureza e os seres ajam em seu meio, de acordo com os escritos do “Destino”.
— Os “Sete” nessa situação poderiam serem tratados como algo ruim?
— Não necessariamente, no inicio da existência nós os venerávamos como divindades ligadas diretamente com a natureza das coisas, mas com o passar dos anos descobriu-se que eles viviam entre nós, se escondendo como parasitas em nossa sociedade, com a exceção do Cavaleiro Negro e Guerreiro Branco.
Rarmeche… Aquele que significa Orgulho, ou o ligado a sabedoria, por algum motivo ele não quer que eu encontre a verdade, mesmo que tenhamos trabalhado juntos no passado…
— Os resquícios da guerra ainda ficaram, um deles que é o maior problemas enfrentado nos dias de hoje é a guerra divina, que provavelmente irá causar uma maior influencia do que a briga entre os dois irmãos.
No fim a verdadeira guerra não se encerrou, só estamos em um período de paz para resolvermos juntos o problema maior, talvez essa seja a oportunidade que eu precisava para retornar a atuar junto dele.
— Por hoje é só, deixarei vocês livres agora para realizarem seus estudos, caso tenham alguma duvida podem vir até mim, ficarei contente em responder quais sejam as duvidas que tenham.
O Corvo reúne os seus livros e papiro indo em direção da saída da sala, o que aliviou o ar tenso que tem em uma sala de estudos.
Um bom método o usado por essa academia, palestras diárias e sessões de estudos entre os próprios alunos, talvez seja o método apropriado para a criação de uma nova geração.
Os alunos começaram a se reunir novamente nos grupos em que se encontravam no inicio da aula, a Kashisujo ao meu lado aparentava ter dormido sentada, vendo que não movia sequer um musculo, já a Sainersh se concentrava em seu livro e papiro, não havia lugar para mim ali.
— Vou tomar um ar lá fora.
— Tudo bem, volte dentro de quarenta minutos ou nos encontre no campo de treinos.
— Certo!
Me levanto e sigo até a saída, passando por vários grupos, os meninos me olhavam com certa raiva e as meninas temiam cada passo que eu dava, talvez mudar a minha aparência não ajuda-se tanto, por causa da minha aura manchada pelo sangue de muitos…