Venante - Capítulo 42
Um Vampiro sentado de pernas cruzadas, uma Banshee deitada em pleno ar, um grande Lobisomem de pelos pretos com os braços cruzados e um Esqueleto de robe extravagante que brandia suas largas mangas. O time Fodalhões passava a seriedade que seu nome não transmitia.
Mais e mais gente se reunia para ver um novo PVP se iniciar. Esta foi uma forma de entretenimento que os muitos jogadores, que ainda precisavam consertar seus equipamentos, encontraram para passar o tempo depois de terminar seus combates.
Murmúrios baixos começavam a tomar mais volume conforme discutiam o que viria a acontecer. Como a área era grande, muitos passavam apenas para olhar se começara ou não, já que havia outros times travando seus embates.
— Tu tem certeza desse plano, Flaw? — Curse buscou confirmação.
Saindo de um estado de transe, o Vampiro pareceu acordar para a realidade e disse: — O time deles é composto por tank, DPS, Mago, Ladino, Suporte e Arqueiro. E, pelos registros e o último PVP, eles vão abrir mão do Mago ou Arqueiro para o nosso caso…
— Mas é muito arriscado! Bah, eu vou ser o alvo de novo… Por que tu tem que sair de perto de nós? — Suspirou fundo, cansada de ser a primeira a ser o alvo.
— Curse, — interveio o Esqueleto — eles não têm ideia da Classe dele. Se perdemos a oportunidade de derrubar o primeiro membro em troca de uma partida mais balanceada, vamos perder. Os caras já vão estar em maior número.
Flaw assentiu e reforçou: — De qualquer forma, eles são confiantes na formação firme deles. Suporte e Mago no meio, Arqueiro e Ladino atrás, enquanto os dois vão na frente. — Virou a cabeça para o amigo Lobisomem. — Eles vão achar que o Claw vai estar buffado pelo Kleth e vão te atacar para impedir usar suas habilidades, Curse — terminou, olhando-a.
— Isso aê — concordou Claw, também encarando a garota. — Se notarem que você quem recebeu o buff que viria para mim, já era, moleca. Negócio é o pai aguentar a porrada daqueles dois e o Flaw deitar alguém.
— A estratégia só muda um pouco se vier o Infernalista ou a Bruxa… — O Vampiro coçou o queixo. — Não sei se simulei o suficiente…
— Simulou?
Balançou a cabeça com rapidez e corrigiu com duas tosses: — Analisei. Analisei! De qualquer forma, vamos ter que derrubar a Suporte ou o Mago primeiro.
— Depois é a velha tomada do fundão — concluiu Claw. — Sorte nossa ter essa moleca conosco.
— É… Tri-foda. — Ela não estava nem um pouco feliz.
— Psiu — Kleth chamou os três e indicou com a cabeça para um lado.
Nesse momento… Passos. Passos de seis pessoas atraíram os olhares de todos.
Flaw encarou a subida dos curtos degraus negros que aquelas figuras alteavam. As pupilas vermelhas do humano pálido, o Paladino Sombrio, J.Paulada, estavam fixas nos quatro a sua frente.
“Chegaram…” pensaram em conjunto e sorriram com o anseio de vencer.
— Ei, não é aquele time de antes? Do 6×6. Pe-alguma-coisa. — A plateia já os reconhecia de alguma forma.
Uma outra voz respondeu: — É o Penumbra. Mas você viu o score dos dois? Esse time novo é formado de amadores?
Como de costume, os viciados em PVP sempre checavam as estatísticas dos times para ter ideia. Muitos trocaram olhares, desacreditados com o que viram, e precisavam que outra pessoa confirmasse que aquilo estava acontecendo.
Um time com mais de 10 derrotas contra um time com mais de 20 vitórias. Um time quase-profissional contra um que parecia ser recém-formado.
— Eles tão de sacanagem? Por que o Penumbra aceitou isso? — Um rapaz perguntou conforme sacudia as pessoas próximas. — Vai ser uma humilhação!
— Olha… Levando em conta os registros deles, acho improvável que tenham ativamente desafiado essa galerinha. Será que eles fizeram algo que provocou isso?
— Vi no registro desses… “Fodalhões” — o rosto da menina se contorceu de vergonha —, e parece que o Penumbra já derrotou eles umas cinco vezes, só hoje.
— Quê? — Outro conferiu. — Pior! Uma derrota vinda da Penumbra, outra de outro time, aí de novo Penumbra, outro time, de novo Penumbra… Tá aí o motivo!
J.Paulada já estava no meio da arena e, ouvindo os comentários de fora, disse sério: — Parece que ninguém acredita em vocês. Nem eu consigo acreditar que conseguem ser tão safados e caras-de-pau para continuarem por aqui ainda.
Claw ajeitou a sua tanga de bárbaro e exclamou confiante: — Safados, somos mesmo. Só que cara-de-pau é você e esse timezinho aí. — Apontou para cada um com desdém. Logo após, indicou com o polegar para si mesmo. — Se nem o pai se gaba por ser gostoso, não vem com essa marra pra cima de mim, não!
Ao ouvir isso, todos ficaram quietos. Era uma mistura de choque e vergonha. O tão tenso clima criado e a dúvida dos motivos de estarem ali foi destruído com apenas a fala de uma pessoa.
— Claw… — Kleth e Curse colocaram a mão no rosto.
Depois desse belo discurso, Leonardo se levantou e estalou os dedos. — Então… Vejo que você está aqui, mas não tem mais pessoas do que devia? Somos quatro, vocês estão em seis.
A plateia, que ouvia atentamente, concordaram com a cabeça. Não havia necessidade de levar toda a equipe apenas para falar com o adversário, a menos que fossem participar também.
O lábio do Paladino Sombrio se levantou pelos cantos e uma risada saiu entredentes.
— Só levei em consideração o que falou…
— Em consideração, huh? — Flaw também sorriu. — Mas não acha exagero?
— O equipamento de todos está danificado, então tivemos que mudar para um conjunto mais fraco, como pode ver. — Virou o rosto para enfatizar a presença deles e retornou para provocar: — Você quem disse que poderíamos ter vantagem, já que estão tão confiantes. Acho que não tem problema, né?
Curse foi a primeira a ir ao lado do Vampiro. — Flaw… — Era óbvia a relutância na fala.
Em seguida, a voz de Kleth foi escutada ao dizer: — Não aceita. É certeza que esses putos tão com equipamentos melhores dessa vez.
E ninguém podia discordar. Alguns membros pareciam estar usando equipamentos melhores do que o combate anterior. Até J.Paulada estava com uma armadura de ossos pretos que emanava uma aura azul-escuro constante.
A plateia não conseguia acreditar em como isso era desparelho. Níveis maiores, maior quantidade, melhores equipamentos e mesmo as habilidades deveriam ser melhores.
— Eles tão querendo destruir esse time! — gritou alguém na multidão.
— Cara! — Exagerados começavam a surgir. — Saíam logo daí, galerinha! Vão para outra cidade, carai!
Era a melhor decisão. Desistir de um PVP era algo normal, principalmente esse que mal tinha começado. Ninguém entendia o que aconteceu antes, mas tinham certeza que o Penumbra estava ali apenas para humilhar e destruir a outra equipe. Seria uma derrota iminente!
— Até que é uma boa ideia… — Verbon tomou a frente. — Vocês já debocharam demais. Quando ganharmos, queremos vocês fora daqui!
Claw cerrou as sobrancelhas e deu passadas largas até os dois, encarando-os nos olhos.
— “Quando ganharmos”? Sabe o que vocês são? FANFARRÕES! — Pressionou os indicadores no peito dos dois. — E, na minha terra, lugar de fanfarrão é debaixo do chão. — E voltou para o lado dos três parceiros.
Foi quase impossível não rir disso. Alguns da plateia seguraram o riso, mas Kleth e Curse não se aguentaram.
Flaw se manteve sereno e replicou o que propuseram: — Certo. Se ganharem, — deu ênfase no “se” — vamos sair daqui. Só que, se vencermos…
— Ele ainda acha que podem vencer! — disse entre-gargalhadas o membro da Penumbra, um Equidno, com o nickname de “Escamão Fulêro”. — Só pode estar de sacanagem com a nossa cara!
Logo que se ouviu as palavras de Leonardo, era difícil levar a sério que realmente acreditavam que tinham chance. O Vampiro analisou aquele homem-serpente vestido com uma armadura que ressaltava sua monstruosa cauda.
Equidnos eram uma das raças que podiam ser escolhidas em Ambição Real. Uma variação mais imponente da Lâmia dos contos.
Escamas negras se estendiam nas laterais do corpo, formando uma espécie de armadura natural, enquanto músculos vermelho-escuro realçavam sobre a carne onde sua força vinha. A única pele e aparência humana sobrava no peito, costas e cabeça.
O grotesco e bestial estava em seus membros: uma longa cauda com duas patas finas e asas que se estendiam delas, enquanto os braços, que deveriam parecer humanos, estavam revestidos de músculos e escamas.
No caso do Escamão, seus músculos estavam mais próximo do roxo, e um tipo de muco escorria deles.
“O tank principal do time deles…” analisou Flaw e logo ignorou a provocação para terminar o que falava: — Se vencermos, vamos querer todos os itens que vocês têm no inventário e banco. — Ao finalizar, estava frente-a-frente do pálido líder da Penumbra.
— Como é que é?!
— Hã?!
— Ele falou isso mesmo!?
O pessoal que estava ao redor da arena não aguentou e começou a surtar. Todos achavam que o Vampiro era um doido! Confiava tanto que venceriam o 4×6? Ou será que queriam apenas fingir isso e depois desistir?
A mão do Paladino Sombrio tremeu enquanto segurava o martelo com dificuldade.
— Eu escutei isso? Você quer que apostemos tudo o que temos? — J.Paulada estava pronto para macetar a cabeça daquele gótico. — Nunca!
— Pois é! Você tá maluco, só pode! — Os outros membros da Penumbra começaram a xingar e gritar com ele.
Leonardo cruzou os braços, sem se afetar e levantou uma das sobrancelhas.
— Você tá desistindo então? — perguntou com o canto do lábio apertado, duvidando do outro.
Com essa pequena e curta pergunta, o líder da Penumbra arregalou os olhos e tremeu o corpo todo. Ele havia entendido!
— Então esse é o seu plano? Subiu tanto essa aposta que quer colocar o absurdo para não destruirmos vocês agora! Hahahaha! — Se virou para os parceiros. — Ele acha que vamos cair nessa.
A conversa abaixo da arena começou a esquentar. As pessoas passaram a entender o que estava acontecendo e se divertiram com a tentativa. Para muitos, foi criativo e, de fato, poderia funcionar para ganhar sem precisar lutar.
No entanto, ao se virar, J.Paulada deu seu ultimato: — Muito bem. SE! Se perdermos, os itens do nosso inventário serão de vocês. Mas só os do inventário! — Bateu no ombro de Leonardo. — Vocês não decidem nada aqui, mas achei engraçada a sua tentativa. É só por isso que deixei essa piada absurda ainda em pé, ok?
Flaw tirou a mão dele. — Claro… — Sorriu e esperou que se afastasse.
Os três parceiros se posicionaram próximo do Vampiro. Claw era o mais feliz dali.
— Conseguimos, maninho — bagunçou o cabelo do seu querido amigo.
— Tu tem certeza que podemos ganhar? Agora são seis. Eu já tava duvidando de cinco, agora seis…
— Veja a cara de confiante daquele merda. — Kleth balançava o crânio e ria com desdém. — Ele tá tão puto que tá precisando dos amiguinhos para se sentir o fodão.
— Ei, esse título é meu, pivete.
— Calado, tiozão peludo.
Flaw já tinha feito PVP outras vezes, acompanhado de um ou dos três amigos de hoje. Eles podiam não ser tão bem-coordenados, mas estavam melhorando muito, principalmente ele. Não tinha o costume de dar ordens ainda, contudo, depois de vencer tantos PVPs solo, sentia que estava mais apto em arriscar.
Ele se virou para a Curse que era a mais incomodada e disse: — Com o plano de antes, a chance de vencer era alguma coisa. Só que agora eles tão em maior quantidade… — Diferente do que suas palavras conduziriam, uma risada saiu do seu nariz. — Eles vão perder mais rápido do que antes.
A garota engoliu a saliva. Os PVPs que foi com ele era a única forma de tentar acreditar nessa previsão, porém ainda foi difícil de assentir. Sabia que tinham melhorado muito por causa dele, só que agora era uma situação totalmente nova.
O bom para eles era que, depois de tanto tempo juntos, humilhações, xingamentos e risadas não incomodavam mais. Se perdessem, era mais disso e só teriam que sair do local, no entanto, se vencessem, seria uma reviravolta; as pessoas não acreditariam, e ganhariam muitos itens.
— Bah! Tá bom. — Forçada a crer, Curse concordou e deu um tapinha nas bochechas com as mãos. — É bom você me proteger direito, ouviu? — Esticou o pescoço para o lado, para dar uma olhada no Esqueleto.
— Tá bom, tá bom — concordou sem muita vontade e falou baixinho: — E desde quando eu deixei de fazer isso?
Flaw falou para os três: — Agora que a Suporte e o Mago vão estar na partida, vou ter que me esforçar mais para derrubar ao mesmo tempo. Fora isso, é o mesmo de antes…
— Tamo ligado; você fala, nós fazemos. Já entendemos, manim — Deu um tapinha nas costas do Vampiro. — Tá na hora de fazer esses linguarudos dar nos dentes.
— Conto com tu, Claw — falou Curse. — Moi aqueles três. — Apontou para o Escamão, J.Paulada e Verbon.
Era por dois motivos: Eram os mais ativos do time e, mais importante que tudo, eles eram os que mais bateram no Lobisomem nessas cinco derrotas.
— Podeixá!
O time Fodalhões estava de bom humor agora, mas a mente de Leonardo não parava de calcular as novas possibilidades.
“Agora que estão os seis na partida, é mais importante que a Curse consiga imobilizar o Verbon, senão vai dar tudo errado. Escamão ou o J.Paulada vão estar segurados pelo Claw…” refletia, lembrando das importâncias das Classes e Raças de cada um. “Eu derrubo os dois do meio e preciso sair, ou eu caio. Curse vai para trás e pega o Arqueiro… E aí vem o problema…”
Por mais que o jovem ainda pudesse simular e calcular com certa precisão o que poderia acontecer, depois de tantas ações claramente havia uma margem maior de erros, o que o incomodava. Porém estava confiante da estratégia prévia do seu time.
Com o fim das preparações, Flaw e J.Paulada preencheram a opção de aposta. O sistema de PVP podia obrigatoriamente cobrar as apostas feitas com base nas opções. Um “x” apareceu em “distanciamento” e outro em “itens do inventário”.
Todos da plateia puderam verificar que de fato a aposta aconteceu e não era apenas por alto. Eles estavam decididos.
O número 5 surgiu na visão dos combatentes na arena. Era a contagem regressiva.
4
3
2
— Um… — falaram baixo.
Um grande “Já!” surgiu e duas figuras já tinham sumido por detrás dos times.
Os Ladinos eram os primeiros a fazerem seus movimentos. Faíscas de lâminas surgiram da lateral da arena.
A Ocultação sumiu dos dois, já que tinham cruzado golpes.
— Boa, Verbon! Pare a Banshee, Lavour! — J.Paulada ordenou o Elfo Negro.
Curse, ao iniciar o combate, estava carregando sua skill de stun: Grito do Desespero. Uma das habilidades mais aterrorizantes no PVP, mas custava alguns segundos para lançar contra tantos inimigos.
Três flechas de diferentes cores e tamanhos foram disparadas, sem demora.
Para derrotar esse timezinho em um combate desigual, J.Paulada não estava tão concentrado em vencer em um instante, já que seria pouco para a humilhação toda que passaram.
O plano da Penumbra seria derrubar a única pessoa que poderia causar algum problema e ir destruindo devagar os três confiantes. E Curse era a única que poderia trazer algum atraso para esse plano.
No entanto, assim que estavam se virando para lidar com o tank inimigo, Claw Fodão, as flechas, à um centímetro de distância do corpo da Banshee, pararam no ar.
Uma aura negra surgiu do corpo dela e mãos descarnadas saíram da escuridão que emanava.
Sem demora, os olhos dos cinco se viraram para o Clérigo da Morte.
Era um incrível buff dado para proteção de tanks, a Proteção do Submundo!
J.Paulada, nesse momento, entendeu que planejavam stunnar de qualquer jeito eles, ao ponto de deixar de proteger o seu tank. Se tivessem focado primeiro no Claw, não teriam esse problema, mas optaram por tentar interromper primeiro a Banshee e depois derrubar o tank.
— Escamão, derruba o Lobisomem logo! — gritou o líder da Penumbra. — Val, proteção no Verbon!
A decisão foi clara. J.Paulada queria evitar que Claw os atacasse enquanto estivessem atordoados, já Verbon estaria em maior perigo contra o Vampiro, então ordenou que buffassem o Ladino para aguentar os golpes.
Um brilho roxo surgiu sobre o Espectro, conseguindo superar a força do inimigo. Enquanto isso, o peludo foi lançado para trás sem dó pelo enorme Equidno.
— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
Os tímpanos dos seis tremeram com o absurdo grito da Banshee. O Arqueiro chegou a cair, e o Paladino Sombrio parou com um joelho no chão. O resto ficou sem equilíbrio.
Verbon, que estava com a visão trêmula, estava preparado para ver seu HP cair, mas o que viu era diferente. O Vampiro sumiu da sua visão. “Onde…?!”
No momento que o Grito do Desespero foi lançado, Leonardo já tinha tomado três frascos de sangue: Ensandecer, Impulso do Inferno e, por fim, Chamas do Xamã Ancião. Ele não tinha mais que um segundo e meio!
Os atributos dele dispararam em tanto que sentia que seu corpo explodiria.
Seu par de adagas, uma das conquistas da Quest Lendária, estava coberta pelas labaredas de um fogo azul. Sua visão vermelha guiava até a direção do Infernalista que estava pronto para convocar seus familiares.
Como os suportes ficavam no meio, Leonardo nem precisou passar pela visão dos oponentes na vanguarda.
Ssssshhaaaaa!
A adaga ardente rasgou na descida pelo manto do Infernalista, cortando-o do ombro até a coxa! O barulho do golpe flamejante sobre o equipamento e avatar, como manteiga na frigideira quente, foi ouvido por todos.
Porém, mais visceral do que isso, a outra adaga livre voou para o pescoço da Bruxa um pouco distante do Mago.
Flaw não sabia se conseguiria matar os dois ao mesmo tempo… “Mas um é certeza!”
Ele rotacionou o corpo, arrancando a adaga fulgurante do corpo do Infernalista e lambeu o sangue borbulhante da lâmina. Feita da própria magia, o fogo não o afetaria de modo algum.
A multidão viu esse movimento preciso, e ergueram seus braços, ovacionando aquela cena incrível.
— Advinda dos Selados! — gritou o Vampiro.
O stun tinha acabado. E Claw, agora com um buff básico de Tenacidade, trocava socos com o Escamão. Enquanto isso, J.Paulada se virou para ver o seu Infernalista caído, com zero de HP.
Tudo o que conseguiu fazer foi abrir a boca em choque.
— Que skill é essa?! Foi hitkill!
O grito trouxe o exato pensamento do Paladino Sombrio para fora. Ele nunca tinha visto um Ladrão de Feitiços, mas acreditava ser apenas um Ladino com magias… Mas agora entendia melhor.
Na visão de todos, o HP de Flaw estava em 40%, enquanto sua MP estava em 20%, diminuindo constantemente. Ele mal tinha sido atingido e estava nesse estado.
Era o maior prejuízo de consumir o sangue de outras criaturas para replicar suas habilidades. Dependendo do nível do sangue e a magia que usaria, o HP do Ladrão de Feitiços seria drenado, e, se tivesse que repor, teria que trocar por MP.
Ensandecer custou 3%, Impulso do Inferno foi 10%, 5% por causa do combate contra Verbon, o Advinda dos Selados, 4%… O restante foi custo puro das Chamas do Xamã Ancião!
Era uma magia tão poderosa que a vida da pobre Bruxa, que teve seu pescoço perfurado por uma das adagas, estava com apenas 35%, descendo por conta do debuff que as chamas causavam.
O choque foi tamanho que era como se a Banshee tivesse lançado outro Grito do Desespero. Flaw tinha atraído a atenção de todos.
— Caralho! — berrou Kleth.
Nesse grito, o time adversário acordou e J.Paulada cerrou as sobrancelhas. Um de seus membros caiu em menos de dez segundos de combate; era hora de mudar.
— Verbon, vamos parar ele! — Ao gritar para o seu parceiro de luta, notou que deixou algo passar.
Leonardo já tinha bebido o sangue do Infernalista e invocara o familiar: Oito Olhos.
Quando estava para retornar ao meio da formação, J.Paulada sentiu suas pernas pararem. Quatro tentáculos grossos estavam presos em seus pés. Aquele Vampiro tinha roubado a magia do membro do seu time e usado contra ele!
Verbon correu para impedir a morte da Bruxa do time, Valtrix, enquanto o Lavour, o Elfo Negro, dividiu a atenção em atirar flechas contra Flaw e Curse.
Curse, que estava tão chocada com o poder do Vampiro, viu a situação e estava pronta para tomar a próxima ação para mudar esse campo. Só que…
Quink!
Uma flecha de ar quase a atingiu na cabeça! Por sorte, Kleth estava de olho e a protegeu com o topo do báculo, rachando-o um pouco.
— Tá na hora, Curse. Pega o Arqueiro! — O Esqueleto estava com o corpo brilhando, o que indicava que estava em estado de highcast — a MP cairia constantemente, mas lançaria com mais frequência as magias.
— Me dá um buff decente, porra! — gritou o Lobisomem ao longe. — Ai, ai, ai! — O tank estava com as garras encravadas sob a pele grossa dele.
— Agora! Portal! — Um portal surgiu do lado da Banshee e outro atrás do Arqueiro.
A garota não esperou e entrou de imediato.
J.Paulada estava arrancando os tentáculos e berrou para Lavour: — Atrás de você!
A Bruxa, com dificuldade, se arrastava para longe; o Vampiro e o Espectro estavam a um metro de distância dela.
— Morre de uma vez! — Verbon esbravejou.
Flaw estava decidido em matar a Bruxa Valtrix, mas acabou por ser parado pelo Ladino. “Se eu não matar ela, vamos perder!” Olhou para a barra da sua vida… 38%. “Pouco demais! Devo arriscar?”
O debuff persistia no corpo dela, então seria um desperdício perder essa oportunidade. Se ele acertasse mais uma vez com o que restava de chamas na lâmina, ele vencia, mas a chance de acabar morrendo seria altíssima!
“Vai funcionar!”
— Verbon! — J.Paulada tinha arrancado o último tentáculo de si e tentou avisar algo, entretanto era tarde demais…
Três flechas caíram sobre o corpo de Verbon, que só pôde ver seu parceiro, Lavour, agora com tatuagens em seu corpo, mirando-o com um sorriso.
Leonardo não perdeu a chance e avançou para a Bruxa caída.
— Po-por… favor! — A ardência incomodava a garganta de Valtrix. O golpe foi tão forte que, mesmo com a sensibilidade no mínimo, ainda fazia seu avatar sentir tanta dor que não conseguia levantar.
No entanto a sombra vampiresca cravou três vezes suas adagas em seu corpo, tomando-lhe a vida.
— Merda! — J.Paulada corria com passos pesados para cima de Flaw. Seu ódio era gigantesco que sequer ligou para as flechas caindo sobre sua armadura.
— Parece que a vantagem acabou. — Leonardo não conseguiu evitar a provocada.
— Calado! Impulso do Inferno! — gritou a magia de aumento de velocidade que a maioria das classes guerreiras tinham.
Quando estava prestes a chegar até o oponente, o Vampiro sorriu, dizendo: — Mas eu sou um Ladino também. — Sua figura começou a se tornar transparente. — Ocultação.
Enquanto sumia, J.Paulada tentou acertar com um giro do seu martelo, porém, assim que atingiu o nada, uma flecha tentou cair no ombro dele.
Tinc!
A lâmina de Verbon defletiu o ataque.
— É quatro contra quatro, Paulo… — sussurrou o Espectro com 68% do HP. — Eles nos pegaram dessa vez.
— Chega dessa merda. Vamos levar a sério. É hora de derrubar um.
— O Esqueleto. A Banshee já vai sair do corpo do Lavour.
Os dois assentiram, confiantes. Como velhos companheiros, já entendiam que tipo de estratégia tomariam. Um correu para a direita e outro pela esquerda, em busca de contornar o Escamão pelos lados.
Leonardo, oculto pela habilidade de Ladino, encarou aquela situação estranha.
“Eles deveriam ter ido para a Curse que possuiu o corpo do Elfo, já que ela tá sozinha… Seria três contra um ou, caso eu interferisse, contra dois… A surpresa terminou.”
Era óbvio que o time Penumbra era capaz de superar essa situação, mas, de acordo com o que esperava, optariam outro tipo de decisão…
“Eu deixei algo passar…? Parece que vou ter que usar.” Logo que refletiu, fez questão de falar em voz alta: — Simulação, ativar.
Agradecimentos:
Meu imenso agradecimento aos Despertados:
Pedro Kauati
E tão incríveis quanto, os meus Perpétuos FODELHÕES:
? Paulinha Foguetão e Alonso Allen?
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