Guerra, o Legado no Sangue - Capítulo 21
Debaixo da chuva torrencial, Lucas atirou em todos os vampiros que conseguia enxergar. Com a última munição na câmara da arma, refletiu momentaneamente sobre qual o melhor alvo.
A cerca de 15 metros, quase imperceptível devido à força da chuva, uma criatura se esgueirava pela lama em direção a uma das carroças paradas na fileira. “Esse é o melhor alvo”, pensou o primogênito dos Guerra.
Conhecendo os padrões de ataque dos monstros, deixou a mira da arma um pouco à frente dele. Quando o alvo preparou as pernas para saltar, Lucas já estava com o dedo prestes a pressionar o gatilho de seu Winchester.
Assim que o monstro saltou, o rifle gritou e criou um clarão. O projétil acertou o peito do vampiro, que girou no ar devido ao impacto. A fera ainda se debateu na lama, tentando sobreviver para matar mais alguém, mas a ferida o matou mais rápido.
Lucas tirou o carregador de munição vazio e guardou no bolso direito de sua calça, depois botou a mão no bolso esquerdo e puxou outro carregador com mais dez projéteis. Encaixou no lugar e deu duas batidas para garantir que estava bem preso.
— Preciso ir para o meio da fila… — disse, em seguida puxou o pino de operação do rifle para posicionar a primeira munição na câmara. — Mal consigo enxergar o que tem na minha frente.
Apressado, o oficial subalterno se pôs na frente dele. — Não precisamos nos preocupar com as conduções atrás de nós!
Com dúvida no rosto, perguntou: — O que você quer dizer com isso?
O sorriso debochado de Nicolas não escondeu seus pensamentos.
— Então o Capitão-tenente não te revelou todo o nosso plano…
— Qual é o plano? — perguntou, enquanto pegava um pequeno cristal vermelho da lama e colocava no bolso da calça.
— Vamos, pense. Não reparou que você e seus amigos ficaram nos extremos?
Incomodado com a conversa, deu um ultimato: — Se ficar enrolando, eu vou embora e deixo você sozinho aqui.
— Calma, calma! Eu já ia explicar…— O sorriso debochado deu lugar a uma expressão de nervosismo. — Na sexta carroça, bem no meio da fila, posicionamos doze fuzileiros. Eles já devem estar assumindo as posições para proteger o comboio.
Lucas levantou uma das sobrancelhas e depois falou: — Os marinheiros não foram muito úteis naquela noite. Por que dessa vez seria diferente?
O jovem Guarda-marinha ficou sério, mesmo nervoso com a situação perigosa.
— Você está confundindo as coisas. Os marinheiros são treinados para operar as embarcações, mas os fuzileiros… eles são treinados puramente para o combate. Além disso, defender uma fileira alinhada de carroças será muito mais simples do que um acampamento inteiro.
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Saltando para fora de uma carroça, doze homens com fardamentos castanho encararam a floresta sombria à frente deles.
— Se espalhem. Vocês sabem o que fazer.
Após a ordem do sargento responsável pelo destacamento dos fuzileiros, onze militares partiram.
Correndo pela lama, os homens ouviram sons de disparo — quase inaudíveis devido ao som da forte chuva. Só poderia ser algum dos voluntários de que ouviram falar.
Um vampiro saltou de dentro da floresta, correndo em direção a uma das últimas carroças da fileira.
O fuzileiro mais à frente apontou seu fuzil Kropatschek e apertou o gatilho. Um estrondo muito mais alto que os sons de disparo anteriores alcançou os ouvidos dos civis nas carroças próximas.
Uma nuvem de fumaça clara foi expelida pelo cano da arma, junto do projétil que atravessou o dorso da criatura. Sangue verde respingou por todo o lado e manchou a tenda da carruagem.
As pessoas que estavam do lado de dentro começaram a gritar.
— Que merda está acontecendo do lado de fora!? Alguém me diga alguma coisa!!
O fuzileiro puxou o ferrolho da arma para trás e ejetou a cápsula da câmara, depois empurrou para a posição de disparo.
— Fiquem todos dentro das conduções. A marinha vai cuidar da situação! — berrou o marujo.
O homem se abaixou, pegou o corpo morto da criatura e arrastou para fora do caminho das carroças. Com a forte chuva, os resíduos esverdeados logo tinham sido apagados de toda a cena.
Seguindo em frente, o soldado continuou seu caminho até o final da fileira. Para seu espanto, quando conseguiu enxergar a última carruagem, cinco corpos de monstros já estavam espalhados pelo chão.
— Puta merda. Se tem tudo isso no chão, os civis…
Com a arma apontada, chegou na parte de trás da carruagem. Novamente, o inesperado: quatro pessoas estavam paradas ali, sem nenhum ferimento, junto com mais alguns corpos de vampiros no chão.
— Que droga de chuva, vai molhar toda a minha roupa. — Sophia sacudiu a borda do vestido, mas era inútil, já estava completamente ensopada.
— Essa lama toda vai dificultar as coisas — comentou Arthur.
Com um olhar de descrença, o fuzileiro perguntou: — Vocês são os voluntários?
Antes que a resposta viesse, Anahí levantou o arco e disparou uma flecha na direção do marinheiro. O homem só teve tempo de ouvir um gemido e um baque ao lado dele. Um dos vampiros caiu do topo da carroça, a flecha cravada em sua cabeça.
A indígena abaixou o arco e avisou: — Cuidado, estão camuflados pela chuva.
Aren ignorou completamente o militar e se virou para a arqueira. — Ainda com aquele sentimento?
Ela concordou com a cabeça. O grupo inteiro estava de olho no horizonte, mas não era possível ver quase nada por causa da tempestade. Em seguida, um deles olhou na direção oposta, para a frente do comboio.
Apoiado em sua bengala, Arthur perguntou em voz alta: — Como será que estão as coisas lá na frente? O Lucas está em desvantagem se comparado conosco.
Quando terminou de falar, outra criatura surgiu da selva. Dessa vez, o fuzileiro foi mais rápido, efetuando um disparo preciso antes que ela conseguisse chegar perto o suficiente. — Se eu estou aqui, o fuzileiro responsável pela primeira condução já deve estar lá também. Não deve haver problemas.
Mesmo com a fala do militar, o grupo não parecia convencido, principalmente Aren. O homem de dreads sozinho havia lidado com cinco vampiros antes do fuzileiro chegar até eles. De relance, olhou para o menino, completamente apavorado, dentro da carruagem; lembrou de seu sobrinho.
— Cê pode ir lá pra frente se quiser. Acho que a gente consegue lidar com as coisas por aqui.
O capoeirista era confiável, isso era inegável, mas havia outro problema. Arthur sabia que, se fosse necessário usar o poder inexplicável que detinha, poderia ser considerado uma ameaça assim como os próprios vampiros.
Indeciso, resolveu ficar onde estava.
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Enquanto as gotas d’ água fria caíam sobre os humanos, saraivadas de chumbo quente choviam nos monstros. Lucas já havia espalhado dezessete corpos ao redor da primeira carruagem.
As investidas dos vampiros inferiores eram agressivas, porém diretas. A memória muscular em seu corpo já era suficiente para que ele não fosse atingido pelos ataques que conseguia ver. Não existia treino melhor que a prática, e não tem prática mais eficiente do que uma luta de vida ou morte.
Sorte ou azar, o grupo já teve várias delas nos últimos dias. Contudo, com as habilidades de Sophia e Arthur, aliadas com a experiência dos outros combates, as lutas no futuro certamente seriam mais fáceis.
Neste momento, Lucas estava por conta própria, mas ainda tinha mais dois disparos com sua Winchester e outros seis com seu revólver. Caso isso não fosse o suficiente, ainda poderia contar com seu sabre.
Nicolas, ainda em cima da carroça, apontava seu revólver para o matagal escuro ao redor. — Consegue ver mais algum deles vindo?
— Nenhum — respondeu sem pressa. Ao encarar a fileira de carroças, viu alguns homens correndo. — Mas parece que os reforços chegaram.
Ouvindo isso, o Guarda-marinha se acalmou. Suspirou profundamente e relaxou os ombros tensos. — Agora podemos tentar tirar esse tronco do caminho.
— Cabo Juarez se apresentando, senhor. — falou , prestando continência.
Para que molhasse menos, Nicolas cobriu a bolsa com seu casaco e em seguida desceu da carruagem. Com o revólver ainda em mãos, correu pela lama em direção à árvore caída.
— Me ajude a empurrar esse tronco para fora do caminho — gritou para o subordinado.
Enquanto os marinheiros tentavam mover o tronco, Lucas manteve guarda logo atrás. Nenhum vampiro apareceu durante todo aquele tempo. “Talvez morreram todos”, pensou.
— Aaargh — gemeu o fuzileiro. — A árvore não é tão grande, mas a lama tá atrapalhando muito. Precisa de mais gente pra empurrar.
Completamente encharcado e cansado, Nicolas correu até a primeira carroça.
— Cidadãos, as coisas ao redor dessa condução já foram eliminadas.
Uma luz acendeu nos olhos assustados dos passageiros, que comemoraram em seguida. Pelo menos até ouvirem as próximas palavras do marinheiro.
— Contudo, um tronco está bloqueando nossa passagem e precisamos de mais mãos para movermos ele. Caso contrário, ficaremos parados aqui.
Os civis, todos pessoas abastadas, não gostaram da ideia de terem que se molharem na chuva e pisarem na lama para fazer esforço físico, mas não tinham outra opção. Ficarem presos no meio de uma estrada com monstros ao redor? Loucura completa.
A contragosto, seis homens desceram da carroça, ficando somente um velho, o tal Doutor, e uma mulher.
Com a equipe improvisada, os seis civis e dois militares começaram a rolar o tronco para fora do caminho. O processo era lento e lama respingavam em todos eles a cada metro conquistado, mas estava funcionando.
Atento, o primogênito dos Guerra continuava sua guarda. De súbito, um calafrio percorreu seu corpo. Olhou em todas as direções, mas não viu nenhuma criatura.
Ao olhar para o grupo que empurrava o tronco, uma pessoa surgiu pelo outro lado da estrada. Parecia ser uma mulher, seu cabelo longo encharcado pela chuva.
Notando a aproximação de alguém, o fuzileiro se levantou. — Madame, se afasta daí. Você está no meio do caminho.
Entretanto, a mulher não se moveu um único centímetro.
— Talvez esteja tão assustada que não consegue te entender direito — comentou um dos homens.
O marinheiro caminhou na direção da civil para tirar ela do caminho. Ao chegar perto, um relâmpago iluminou a paisagem. Por um instante foi possível enxergar melhor a figura desconhecida.
Suas roupas eram incomuns, sua pele pálida e seu cabelo tinha cor roxa, mas o que chamou atenção de verdade foram suas feições. Havia um nojo evidente em seu olhar, como se um grupo de ratos estivesse no meio do caminho.
O fuzileiro deu um passo para trás, mas já estava muito perto. A mulher agarrou seu braço, uma força descomunal por trás do aperto. O homem tentou se desvencilhar, mas não conseguiu.
Com a mão livre, desferiu um soco em cheio no rosto. A criatura, por outro lado, apenas moveu um pouco a face. O nojo em sua expressão deu lugar ao ódio e no instante seguinte o barulho de ossos se quebrando foi ouvido.
— Aaaaaaah! — O fuzileiro berrava e se contorcia, sem conseguir se afastar. — Me solta!!
Os civis se afastaram vários passos e Nicolas apontou seu revólver. — Pare com isso agora mesmo!
Vendo que as coisas não acabariam bem, Lucas se aproximou da figura. Pensou em atirar de onde estava, mas o marinheiro se movia muito e poderia acabar no caminho do disparo.
O Guarda-marinha estava perto o suficiente, sua visão e distância eram boas para o disparo. Contudo, suas mãos não paravam de tremer. Vendo isso, Lucas novamente lembrou do que seu avô disse, “atirar em uma pessoa é completamente diferente”.
— Solta ele ou eu vou atirar. — Sua arma apontada para a mulher diante dele.
Sem desviar os olhos da presa à sua frente, ela moveu sua outra mão em direção ao pescoço do fuzileiro. O homem foi erguido do chão como se não tivesse peso nenhum. Suas pernas chutavam o ar em um esforço inútil de escapar e seu rosto começou a perder cor pela falta de oxigênio.
Sem tempo para perder, Lucas fez dois disparos em sequência.
Os projéteis acertaram em cheio o ombro direito, libertando o marinheiro do aperto que o sufocava.
A figura desconhecida soltou o pulso do homem e colocou a mão sobre sua ferida no ombro. Parecia surpresa com a visão do próprio sangue. Em seguida, um olhar enfurecido foi dirigido ao primogênito dos Guerra.
— Meu Jesus… — murmurou Nicolas, enquanto tentava retomar a compostura. — Se renda imediatamente ou eu também irei disparar!
Caído ao chão, o marinheiro ferido tentava recuperar o fôlego perdido. Seu desespero não o permitiu prestar atenção ao que acontecia ao redor. Quando menos esperava, foi atacado novamente.
Dessa vez, entretanto, não teve sequer tempo de gritar ou lutar. A mão da criatura penetrou seu peito como uma lâmina, e sangue borbulhante escorreu pela boca do pobre infeliz.
Lucas soltou a Winchester, agora sem munição, e pegou seu revólver; mas, assim como o Guarda-Marinha, não disparou — não conseguiu.
O monstro com aparência humana ergueu o corpo do homem do solo, enquanto o coitado tremia em agonia, usando-o como um escudo para evitar outros disparos. Aquele fuzileiro já estava fadado à morte, eles sabiam que não teria salvação, mas não conseguiram disparar mesmo sabendo disso — afinal, era uma pessoa assim como eles.
O que não esperavam foi o que veio depois. O corpo do militar começou a se contorcer com violência e diminuir de tamanho. Sua pele ficou cinza, sua calça e botas caíram do corpo. Ao mesmo tempo, as feridas da criatura soltaram uma fumaça verde e se fecharam completamente.
A criatura puxou sua mão para fora do cadáver do fuzileiro, deixando-o cair entre suas roupas no chão. Em sequência, a farda encharcada do fuzileiro se mexeu.
De onde só deveria haver um corpo, surgiu algo inimaginável. Lucas não poderia acreditar em seus olhos — Um vampiro inferior.
A mulher inumana ergueu uma mão e o recém transformado vampirou disparou na direção de Nicolas. Pego de surpresa, mas com espaço o suficiente para reagir, o militar apontou seu revólver na altura do peito do monstro e apertou o gatilho.
Uma vez, então outra e mais outra. Após três disparos, a criatura parou de se mover. Soltou um gemido semelhante a de um animal morrendo, enquanto sangue verde escorria mortalmente por suas feridas.
Apontou o revólver na direção da mulher que havia feito tudo isso. Porém ela não ficou parada, se movendo muito rápido de um lado para outro enquanto avançava na direção de Nicolas.
O militar não estava conseguindo mirar direito, mas ele sabia que a cada segundo que se passava ela ficava mais próximo dele. Quando estava a menos de 3 metros, entrou em desespero, efetuando seus últimos três disparos.
Suor frio se misturou com a água da chuva e escorreu pela testa do Guarda-Marinha. Nenhum tiro havia acertado o alvo.
Enquanto tudo isso acontecia, Lucas estava preso em sua própria mente. “Ela matou aquele homem… não, ela transformou ele em um vampiro”. Queria poder duvidar de seus olhos, não queria acreditar.
Suas mãos tremiam, enquanto encarava o revólver municiado que segurava. “Todas aquelas vezes eram pessoas que foram transformadas. Sempre que eu atirei nos monstros… matei seres humanos.”
Sentiu um enjoo idêntico a noite em que matou Flávio, mas ainda mais forte. Sua respiração acelerou e sua visão perdeu o foco por um instante, a ansiedade em seu peito era quase insuportável.
Devido a situação, precisou mudar o foco de seus pensamentos. Sofreria depois, agora precisava lidar com a aberração de força sobre-humana diante dele. O monstro avançava em direção a Nicolas, seria sua chance de fazer algo.
— Vamos recuar! — gritou o marinheiro, suas pernas já estavam o levando para longe dali. — Ela é perigosa demais.
Normalmente o rapaz teria escutado e saído dali inteiro, mas os últimos dias de sua vida eram a definição de anormal. Sua raiva estava toda direcionada para a vampira na frente dele.
— Eu vou ficar aqui e matar essa coisa.
O Guarda-marinha pensou em dizer algo, mas já tinha entendido que seria inútil.
Ainda correndo atrás do homem, o monstro parecia se divertir. Quando estava na distância de apenas um braço, seus sentidos apitaram; interrompeu sua corrida e saltou para o lado.
Um projétil passou rasgando o ar no local em que sua cabeça estaria. Olhando para o lado, viu o outro humano vindo em sua direção. Seus olhos brilharam na cor púrpura e ela sorriu friamente.
Com mais cinco cápsulas no tambor, Lucas manteve a mira do revólver no monstro. A chuva continuava caindo, e a lama certamente diminuía a velocidade máxima que aquela coisa alcançaria.
Diferente do que havia feito com Nicolas, entretanto, o monstro não tentou se mover para os lados visando evitar os disparos. Ao invés disso, abaixou seu centro de gravidade e se manteve praticamente rente ao chão, mantendo ambos os braços cruzados na frente da cabeça.
Correr naquele ângulo seria impossível para um ser humano, era como se a criatura estivesse subindo uma parede inclinada usando somente as pernas.
O primogênito dos Guerra, entretanto, não se amedrontou, ainda havia quase quinze metros de distância entre eles. Apertou o gatilho mais duas vezes, acertando em cheio os braços que a vampira usava como escudo. Porém a velocidade dela não diminuiu, os tiros não atravessaram.
O rapaz se moveu um pouco, recuando em direção à carroça enquanto mantinha a mira na vampira que vinha até ele. Quando estava a pouco menos de cinco metros, disparou mais uma vez. O baque fez o monstro cair e rolar na lama; “esse acertou em cheio”, pensou ele.
Quando a vampira parou de rolar, não era um corpo estirado na lama, mas uma fera de olhos roxos pronta para saltar sobre sua presa.
Ele havia sido enganado.
Essa foi a primeira vez que notou a diferença entre enfrentar um ser irracional e enfrentar um inimigo inteligente que elabora estratégias e engana.
Com as duas pernas e os dois braços, a criatura se impulsionou, cortando toda a distância que restava entre os dois. Lucas tentou disparar mais uma vez, mas a surpresa roubou seu tempo de reação.
Como uma foice, o monstro atacou Lucas, visando diretamente o revólver em punho. Com uma diferença tão grande em força, ele não teve chance; a arma foi arrancada de sua mão, quebrando e torcendo o dedo indicador que ficou preso no guarda-mato.
O primogênito dos Guerra não teve nem tempo de sentir dor, já que o ataque em sequência veio rápido demais. De baixo para cima, uma palma atingiu em cheio seu peito e ele sentiu suas costelas se curvando com o impacto.
Seu corpo se desprendeu do chão e ele foi arremessado pelo ar. Voou por vários metros até atingir a primeira carroça da fila, atravessando a tenda que protegia os passageiros da chuva e atingindo o espaço entre os bancos.
Sangue respingou nos únicos dois passageiros, que conseguiram ouvir o som de ossos estalando durante o impacto.
Uma mulher de meia-idade saltou de seu assento em desespero. — Meu Deus! O que é isso?!
O outro ocupante da cabine, o tal Doutor Herzolen, se levantou e encarou o lado de fora pelo buraco que o corpo de Lucas abriu. Chovia muito, mas ele conseguia ver a criatura do lado de fora. Um calafrio percorreu o corpo dele, seus instintos mandavam que fugisse.
Encarou o jovem imóvel diante dele, se aproximou e analisou os sinais vitais. Notou que respirava com dificuldade, mas o problema eram os batimentos cardíacos: seu coração não batia.
A mulher e o homem pegaram suas malas e se aproximaram da saída da carroça. Ficar perto daquela coisa era perigoso, precisariam ir embora.
Porém, ele era um médico. E não qualquer médico, mas um experiente. Serviu como médico em campos de batalha e fez cirurgias de emergência em meio a explosões de artilharia. Fugir deixando uma pessoa à beira da morte sem tratamento seria uma vergonha.
— Marie, deixe a mala com meus instrumentos e vá.
A mulher chamada Marie exitou por um instante. — Doutor, você vai ficar aqui sozinho?!
O homem abriu a maleta e começou a pegar seus equipamentos.
— Eu preciso. Bem na minha frente há um paciente que precisa de mim.
— Mas, Doutor! Esse paciente literalmente caiu do céu e está sem batimentos, não vai sobreviver…
O médico passou a mão nos seus fios brancos, que tinham um leve tom acobreado, e olhou com convicção para a assistente. — Não se depender de mim.
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