Knight Of Chaos - Capítulo 443
Na batalha central, em frente a Garância, os exércitos de Humanos e Dobats finalmente haviam se chocado.
BOOM! BOOM!
O cenário na terra era como um inferno, onde milhares de tropas digladiavam entre si, tornando todo o local um amontoado de sangue e carne. Mas no céu, as tropas aéreas não estavam muito melhores. Enquanto bombardearam os Orcs abaixo, os Majores e Capitães Combatentes, assim como alguns poucos Tenentes, ainda tinham que lidar com as centenas de magias dos Ogros, além de diversos projéteis, como pedras e armas, lançados pelos Dobats.
Todo o céu parecia um turbilhão, cheio de magias e explosões. Hora e outra era possível ver corpos de pessoas abatidas despencando das alturas. Mesmo um Capitão poderia ser morto por um projétil arremessado pelos Orcs, muito menos os Tenentes, que tinham menos defesa e mana.
De um lado, estava a Horda, com quase 25.000 Orcs, liderados por Augak, Lorde Soberano, Mestre do Clã Gokut, um dos dez maiores Clãs Dobats.
Do outro estava o General Comandante Wayne, um dos mais prestigiados Generais dos Leões Dourados, outrora cotado para ser o General Supremo, liderando pouco mais de 22.000 homens.
Atualmente havia quase 5.000 homens na Segunda Divisão de Cavalaria, liderada pela Capitã Lerona. Na Terceira Divisão, vindas do QG, 7.000 homens, sendo tropas de elite e por último, menos de 10.000 na Quarta Divisão, lideradas pelos Generais Ramon e Zado.
De forma geral, ambos os exércitos pareciam superficialmente equilibrados, mas na realidade, os Orcs estavam, pouco a pouco, ganhando terreno. Com números equiparados, os Humanos simplesmente não tinham como vencer e Wayne sabia muito bem disso.
Mesmo com as tropas de elite que ele havia trazido do QG, que faziam com que a situação ficasse um pouco melhor, no geral, o panorama do conflito ainda era crítico.
Inicialmente os planos de Wayne eram de lançar um ataque rápido e devastador no exército central inimigo, desmantelando suas tropas e obrigando-as a recuar.
Desde o início seu plano nunca foi exterminar completamente a outra parte, mas apenas obrigá-la a bater em retirada. Uma batalha onde se extermina completamente o outro lado simplesmente era algo raro e que dificilmente ocorria no campo de batalha. E, quando ocorria, somente o fazia em circunstâncias especiais, seja por desvantagem absoluta de uma das partes, ou como medida desesperada.
Geralmente, qualquer General evitava ao máximo essa situação, já que uma batalha total, onde se visava o extermínio de uma das partes, sempre terminaria em um resultado que não era diferente de uma derrota, devido ao número massivo de baixas.
O plano de Wayne era derrubar o Comandante inimigo com as Balistas Explosivas logo no início, foi para isso que ele usou a Segunda Divisão de Cavalarias como isca, perdendo até mesmo o Major Rayzor no processo.
Se ele tivesse sido bem-sucedido, poderia ter acabado com essa batalha em pouco tempo. Entretanto, o fato do Comandante inimigo ser um Lorde Soberano era algo um pouco fora de seus cálculos.
No alto dos céus, erguendo-se como três pilares, havia três homens, no centro, um pouco a frente deles estava o General Comandante Wayne, à sua direita estava Ramon e a esquerda Zado.
“Não gosto de ser pessimista, mas não vejo como podemos fazer isso.” Zado comentou, com o rosto franzido, olhando para o meio do exército inimigo, onde Augak, o Soberano, estava, de forma orgulhosa e despretensiosa, como se estivesse os desafiando abertamente.
Ramon, do lado direito, acenou com a cabeça, parecendo concordar.
“Se não fosse os malditos Generais da Aurora e Salamandra…” falou, com alguma raiva em sua voz.
Ouvindo isso, Wayne fechou os olhos por um momento, suspirando.
A verdade é que ele também sabia que com apenas três Generais, eles simplesmente não tinham força suficiente para derrotar um Soberano, ainda mais um tão poderoso como esse.
Inicialmente ele havia planejado convocar os Generais das Legiões Aurora e Salamandra quando a situação na Primeira Divisão estivesse estável. Com os dois Generais, somado a Herin, Zado, Ramon e ele próprio, teria um total de seis Generais. Esse era um número suficiente para ameaçar até mesmo um Cavaleiro ou Grande Mago fraco.
E, diferente da batalha no acampamento Orc, onde tinham apenas elites para se defender de todo um exército, dessa vez eles tinham seu próprio exército para apoiá-los!
Porém, todo o plano havia mudado quando receberam a notícia de que Kamal havia sido morto por um Lorde Marauder e Lauren da Legião Aurora havia desertado, obrigando Wayne a enviar Herin para controlar a situação na Primeira Divisão, fazendo com que tivessem metade do número de Generais previsto.
“Talvez devêssemos recuar?” Ramon perguntou, com alguma hesitação.
Wayne ficou em silêncio com esse questionamento, enquanto Zado encarou Ramon, que se encolheu.
A verdade é que a opção de bater em retirada era a mais viável no momento e a que seria normalmente aplicada em ocasiões como essa. Não só eles não tinham os meios para derrotar o Comandante inimigo, como até mesmo estavam em desvantagem numérica e de poder geral.
Entretanto, recuar neste momento, sem resultados satisfatórios, seria um grande golpe na facção de Wayne. Principalmente se o General Supremo, Dimas Ortega, fosse bem-sucedido em seu ataque.
Se isso acontecesse, toda a facção seria desmontada, os cabeças principais, no caso, os Generais presentes nessa batalha, sofreriam fortes represálias, assim como seus apoiadores.
No melhor dos casos, seu prestígio seria abalado, alguns destituídos e enviados para pequenas cidades isoladas, mas, no pior dos casos, todos seriam caçados pela Cidade Dourada, sendo incriminados e por fim, presos ou mortos. Isso era o quão ferozes e violentas eram as disputas políticas dentro das Legiões.
Como Generais, todos estavam cientes das consequências de recuar neste momento, afinal eles já viram isso várias vezes em outras legiões e até mesmo dentro dos próprios Leões Dourados no passado. Quando Kaisar, o atual Marechal dos Lobos de Batalha, causou uma insurgência junto a outros Usuários de Habilidades da época.
Foi graças àquele incidente que a Legião havia não só estagnado em seu crescimento, como até mesmo encolhido em sua força geral e influência. Eles perderam não só vários Usuários de Habilidade poderosos, como até mesmo os Generais e tropas enviadas para perseguir Kaisar haviam sido exterminadas.
Devido a essa cicatriz em sua história, Wayne e os demais sabiam que a Cidade Dourada, assim como muitos Generais importantes dentro da Legião, estavam temerosos sobre os conflitos internos. Por isso tinham certeza que se eles fossem os derrotados nessa disputa por poder, as consequências não seriam nada brandas, com essas pessoas fazendo o possível para apagar completamente quaisquer novas faíscas de conflitos.
Entretanto, mesmo sabendo disso, eles, como Generais, tinham que pesar os prós e contras. Eles deveriam insistir nessa batalha, mesmo sabendo que a possibilidade de vitória era baixa, apenas por seus interesses, sacrificando assim a vida de dezenas de milhares de seus homens leais, ou deveriam recuar, poupando suas tropas e assumindo as consequências por seus atos?
O jogo político e de interesses não era tão simples, quanto mais poderoso e influente alguém era, mais e mais vidas estariam em suas mãos, assim como a responsabilidade por elas.
“Vamos observar um pouco mais. No pior dos casos, vamos fazer uma tentativa.” Wayne disse, com um olhar calmo.
Ouvindo essas palavras, a expressão de Ramon ficou hesitante, enquanto a de Zado era calma e séria. Em suma, o que o General Comandante estava dizendo é que os três deveriam desafiar o Soberano.
A atual situação fazia com que ambos os exércitos, Orc e Humano, apesar de estarem em combate, também estivessem em um jogo de espera.
Augak, o Soberano Orc, apesar de confiante em sua força, não estava interessado em se arriscar a adentrar em meio às forças inimigas para caçar os Generais Humanos, pois sabia que sua Horda era suficiente para derrotá-los, mais cedo ou mais tarde. Por outro lado, Wayne e os outros Generais estavam hesitantes sobre um conflito direto com um Soberano com tão poucos deles.
Enquanto os cabeças de ambos os exércitos se enfrentavam num jogo mental, Heitor, que estava nas fileiras da Segunda Divisão, tinha um rosto chocado quando recebeu uma notícia. Um Tenente pouco conhecido, que havia localizado o acampamento Orc dias antes, havia assumido provisoriamente o Comando da Quinta Divisão no Oeste.
“Isso só pode ser brincadeira, né?” falou consigo mesmo, com um rosto incrédulo.
…
No Leste da Quinta Divisão, um único homem, com cabelos longos e uma grande barba negra desgrenhada, manoplas de ferro que pareciam ser uma única peça com sua armadura, voou acima do exército Orc, esse era Alonso Allen, Capitão da Brigada Salazar.
“Hora de começar!” O sujeito falou, sorrindo.
Ting! Tam!
Batendo uma luva contra a outra, tudo ao redor parecia tremer, até mesmo o ar, que parecia ficar vários graus mais quente.
No solo abaixo, as tropas da Brigada Salazar observaram a situação com sorrisos nos rostos.
“Lá vai ele, o Capitão vai fazer aquilo!” Um Soldado exclamou.
“Eu nunca me canso de ver!” Outro disse, animado.
Assim que as pessoas abaixo estavam comentando, todo o céu pareceu estar vermelho, quando Alonso ergueu ambas as manoplas para o alto. As manoplas negras pareciam estar ficando cada vez mais quentes, quando mudaram de cor, ficando vermelhas, como metal sendo esquentado na forja.
“Preparem-se seus merdas!” O Capitão careca, Anthony, exclamou.
Assim que ele disse isso, Alonso, que estava no alto do céu, já tendo chamado a atenção das tropas Orcs, começou a cair como um cometa.
Bam!
A velocidade do homem era realmente enorme, ao ponto da resistência do ar ser quebrada. O enorme estrondo atraiu a atenção de ainda mais Dobats. Mas como o sujeito estava muito alto, não havia muito que pudessem fazer, além de observar. Além disso, devido ao ataque das Balistas anteriormente, as tropas ainda estavam desnorteadas e se reorganizando.
Conforme chegava cada vez mais perto, numa velocidade enorme, as tropas Dobats tentaram arremessar projéteis, que apenas atingiram a barreira translúcida de Alonso, que continuava caindo, então, logo o homem atingiu o chão.
BOOM!
Com uma violência absurda, as manoplas atingiram o solo, assim que o fizeram, uma onda de choque propagou-se, e também uma enorme área de terra ergueu-se para todos os lados, enviando Orcs para o ar, assim como outros foram engolidos pelo solo.
Mas não parou por aí. No local que havia sido atingido, um único homem apareceu acima, flutuando, suas duas manoplas emitindo um chiado estranho, enquanto labaredas pareciam ser emitidas delas. Abaixo dele, no fundo da cratera, algo estava acontecendo.
Rooooc!
Por trás da poeira, como se fosse o ronco de algo vivo, alguma coisa parecia estar querendo escapar do fundo do solo. Os Orcs ao redor observaram a cena, com olhos cheios de medo. De repente, algo explodiu!
BOOM!
Do fundo da cratera, uma enorme quantidade de magma foi expelida, lançando material quente para todos os lados!
“Ataquem!” O Capitão subordinado ordenou, avançando com as tropas em direção aos Orcs que se dispersaram para todos os lados.
Esse era um dos movimentos que fez com que Alonso e a Brigada Salazar ficassem famosos, as pessoas chamavam essa magia de Montanha de Fogo. O Capitão dos Punhos de Ferro usava uma mistura de Magia de Terra, Fogo e uma matriz especial em suas manoplas que potencializava seu mana elemental.
Usando da inércia de sua queda, ele aproveitava-se de toda força cinética/gravitacional gerada para lançar seu mana nas profundezas da terra no meio das tropas inimigas. Somente alguém como ele, um gênio, Capitão de uma Brigada Nomeada, seria habilidoso ou louco o bastante para fazer algo tão arriscado.
Enquanto via com um rosto calmo sua Magia de Magma invadindo as forças inimigas, Alonso Allen olhou na direção da Quinta Divisão.
“É melhor não me decepcionarem.” falou, consigo mesmo.
…
Na Quinta Divisão, após saber que a Sexta e Sétima Brigadas, assim como o próprio Batalhão Zero, estavam em desvantagem e começando a perder, Fernando ficou inseguro sobre o que fazer. Todos os seus truques já haviam sido usados, ele não conseguia pensar em nada para resolver a atual situação!
Seu único trunfo agora eram as Balistas, que haviam sido disparadas recentemente, mas a questão é, as tropas aguentariam até que as armas de guerra fossem recarregadas? Isso era algo completamente incerto!
Mesmo com a Brigada Salazar lançando um ataque no Leste, o que fez com que o movimento da Horda se tornasse mais irregular e disperso, ainda eram milhares de Orcs. Simplesmente não havia como parar tal força com truques simples!
“Tudo está pronto, Mestre.”
Ao ouvir a voz de Brakas em sua mente, a expressão de Fernando, que estava começando a hesitar, acalmou-se. Então, afastando-se um pouco do Quartel, numa área aberta, moveu o pulso, retirando uma enorme tenda de sua Pulseira de Armazenamento.
“Não importa o que aconteça ou quem seja, ninguém deve me atrapalhar.” O jovem Tenente ordenou, fazendo com que dois guardas ficassem do lado de fora da tenda.
Essa situação fora do normal fez com que os Oficiais de Inteligência e mesmo as tropas ao redor se sentissem estranhas. Que tipo de pessoa que estava no comando se isolava no meio de uma batalha?
Apesar disso, ninguém ousou interferir. Todas as ações do rapaz até o momento haviam sido benéficas para a Quinta Divisão, para alguém assim, todos não se importam em relevar alguma estranheza. Além disso, nesse ponto da batalha, havia pouco que o Comandante Provisório poderia fazer além de esperar.
Dentro da tenda, Fernando moveu novamente o pulso, fazendo uma espécie de cama aparecer. Após isso, um portal negro surgiu, onde alguns enormes tentáculos, erguendo o corpo de um homem idoso, saíram de dentro.
De forma delicada e cuidadosa, os tentáculos colocaram o corpo do homem sobre a cama.
O jovem pálido observou todo o processo com olhos calmos.
“Vamos começar.”