Knight Of Chaos - Capítulo 444
Ao ver o corpo inconsciente do Major, usuário de Magia de Gelo, Fernando ficou levemente hesitante, mas logo decidiu-se.
“Vamos começar!” O rapaz falou, usando sua mente, para que sua conversa não fosse ouvida pelos guardas do lado de fora.
Ao ouvir a ordem, alguns dos tentáculos do Beholder se contraíram de volta ao portal do Anel de Aprisionamento, então, após alguns instantes, saíram novamente, na ponta de um deles havia uma vasilha, com algum tipo de líquido dentro.
“O que é isso?” O jovem Tenente perguntou.
“Bem… Digamos que é uma versão mais poderosa e concentrada da sopa de carne de Delgnor, Mestre.” A voz envelhecida de Brakas soou. “Podemos usar isso como um catalisador, para recuperar o corpo desse Humano mais rapidamente.”
Apesar de não entender completamente, Fernando concordou.
Então, com delicadeza, Brakas tocou com a ponta de um de seus tentáculos no líquido e passou a espalhá-lo nos ferimentos do corpo do homem.
“Agora vou começar a curá-lo. Mestre, preciso que use aquele seu mana. Não se preocupe em controlá-lo, eu farei isso. É um pouco arriscado e vai desgastar o Humano, mas ele deve se recuperar muito mais rápido que o normal.”
Ouvindo isso, o jovem Tenente assentiu. Nesse ponto ele já estava decidido a fazer isso, mesmo que diminuísse a expectativa de vida do Major. De qualquer forma, se as coisas continuassem como estavam, todos ali morreriam.
Acessando o mana gelado e concentrado da Pedra de Mana, Fernando fechou os olhos, então tocou o braço do velho homem. Inicialmente ele estava em dúvida sobre como inserir o mana no corpo do homem sem machucá-lo, já que era extremamente agressivo, mas com Brakas tendo garantido que cuidaria disso, decidiu confiar nele.
No passado, ele já havia usado esse mana em outras pessoas, tanto em membros do Batalhão Zero, quanto Raul e Ferman, então estava relativamente familiarizado com o processo. A diferença é que dessa vez ele não estaria construindo Veias Artificiais, apenas despejando seu mana, provindo da pedra, diretamente nos Canais de Mana da outra parte.
Pensando um pouco, resolveu conferir a quantidade de mana que havia na Pedra. A última vez que ele havia reabastecido com Poções foi antes de partir de Belai.
- Status: Pedra de Armazenamento de Mana
- Mana: 915.120/(???)
Mesmo com a quantidade que havia gastado nessa incursão, ainda havia uma quantidade avassaladora de mana, então isso o fez se sentir tranquilizado.
Logo o jovem Tenente acessou o mana gelado e frígido da pedra e começou a absorvê-lo em seu corpo em quantidades massivas. Ele não podia lançar diretamente no corpo do homem, mas precisava primeiro acalmar a fúria do mana gelado ao circulá-lo todo o caminho em suas Veias de Mana Expandidas, misturando-o ao seu próprio mana. Só após isso, quando sentia que tinha controle suficiente, é que ele se atreveria a transferir para o Major.
Lembrando-se do passado, onde apenas uma pequena quantidade desse mana fazia todo seu corpo tremer e suar frio, Fernando não pôde deixar de pensar o quanto havia se acostumado a essa sensação.
O outrora mana gelado e assustador da Pedra de Mana, agora parecia levemente familiar e em certo grau, até aconchegante, o que o fez ficar confuso.
Talvez meu corpo esteja se adaptando a isso? pensou, com alguma confusão. Mas logo deixou essas questões de lado, pois não poderia se distrair no processo, ou a vida do velho homem estaria em risco.
Então, de forma extremamente cuidadosa, começou a transferir o mana de seu corpo para o Major. A mão de Fernando estava tocando o braço esquerdo do homem e assim que o processo começou, quando o mana tocou os canais do sujeito, seu braço se contraiu instintivamente.
Isso fez o jovem Tenente se assustar e quase parar o processo, afinal qualquer resistência por parte do homem poderia causar um acidente, mas uma voz logo soou.
“Não se preocupe, Mestre, eu cuido disso.” Brakas disse, acalmando o rapaz.
Então um fluxo furioso e poderoso invadiu os canais de mana do Major, dominando, de forma agressiva e poderosa, o Mana da Pedra.
Ao ver isso, Fernando ficou extremamente surpreso. Mesmo ele tinha dificuldades em lidar com o Mana da Pedra, ainda mais dentro do corpo de outras pessoas. Entretanto, Brakas estava o dominando com uma mistura de controle e força bruta.
Essa situação fez o rapaz olhar de forma desconfiada para o portal, onde o Baiholder estava. Por mais que Brakas estivesse sob seu controle, Fernando não estava interessado em ver outros controlando tão bem algo que deveria ser seu maior trunfo e segredo.
Como se notasse o olhar do rapaz, uma voz logo soou a partir do portal.
“Depois de você me alimentar tantas vezes com seu mana, estou bem familiarizado com ele, Mestre.” A voz envelhecida da criatura se explicou, com algum nervosismo.
Diferente de outras criaturas vivas, Beholders não necessariamente precisavam consumir alimentos, para eles, tudo que importava era mana. Contanto que tivessem mana, seus corpos poderiam se manter sempre saciados e abastecidos.
Normalmente eles simplesmente absorviam o mana do ambiente, ou se estivessem numa área pobre em mana ambiente, poderiam simplesmente caçar criaturas vivas e roubar seu mana. Entretanto, isso não poderia ser feito dentro do Anel de Aprisionamento.
Dentro do Anel não havia mana ambiente, pois não era um local natural, mas um espaço de Armazenamento, onde não havia criação desse mana natural. Sendo assim, para que a criatura pudesse sobreviver lá, Fernando comumente costumava enviar Poções de Mana para ele, e algumas vezes, simplesmente lançava diretamente seu mana dentro do Anel de Aprisionamento.
Por consumir com frequência o mana da Pedra de Mana, era natural que ele tivesse se adaptado a certas propriedades naturais dela. Sendo assim, não era tão estranho que Brakas, que se alimentava de seu próprio mana, estivesse acostumado ao da Pedra, que era a origem.
Então é isso. O jovem pálido pensou, ao finalmente entender.
Assim como ele próprio e seu corpo estavam se familiarizando com o mana da Pedra, Brakas, que era da raça dos Beholders e consumia seu próprio mana e claro, tinha um corpo muito mais poderoso que o de Humanos, naturalmente se acostumaria muito mais rápido que ele próprio.
“Não se preocupe Mestre, assim que seu controle e força aumentarem, seu domínio sobre isso vai ser muito maior que o meu.” A voz da criatura soou, como se para confortar o rapaz.
Atualmente Brakas era um Beholder Ancião, também conhecidos como Baiholders, uma existência acima dos comuns entre sua raça. Em termos de força, um Baiholder estava pelo menos acima da força de um Capitão, somado a isso, eram criaturas que sobreviviam do mana, então era natural que seu controle fosse muito maior que o de Fernando, que mal havia pisado no nível de um Tenente.
Depois dessa breve conversa, o rapaz continuou a inserir mana no corpo do Major, enquanto Brakas começou a controlá-lo, usando esse mana, bem como a mistura feita com a carne de Delgnor, o corpo do homem começou rapidamente a absorvê-los e usá-los como combustível quando a criatura começou a bombardeá-lo com Magia de Cura da raça Beholder.
De repente, todo o corpo do Major começou a convulsionar freneticamente, fazendo-o gemer de dor, enquanto sua boca começava a espumar, como se estivesse sufocando.
“O que está acontecendo?!” Fernando falou, em tom de urgência.
“Acalme-se, Mestre. Isso já era algo que eu esperava, mesmo que esse Humano seja poderoso, no fim, ele ainda é um Humano. É natural que seu corpo tenha dificuldade de lidar com isso. Apenas continue, se pararmos agora ele vai morrer.”
Após dizer isso, mais tentáculos saíram do portal do Anel de Aprisionamento. Alguns começaram a segurar o corpo do velho homem, enquanto outros seguraram seu maxilar, puxando sua língua para fora, para impedir que o sujeito engasgasse com ela ou a mordesse.
O jovem pálido franziu a testa ao ver a situação em que sua decisão havia deixado o homem, mas logo acalmou-se, mantendo um rosto inexpressivo. Lamentar agora não iria adiantar em nada, ele deveria terminar o que havia começado!
Treme! Treme!
Após alguns segundos, as convulsões começaram a diminuir, assim como sua aparente dor, enquanto seu corpo tremia. Ao mesmo tempo, várias das feridas que haviam restado após a operação, que o Mago de Cura foi incapaz de curar completamente, começaram a simplesmente se fechar, desaparecendo a olho nu, como se nunca tivessem existido em primeiro lugar.
Essa visão deixou o jovem Tenente deslumbrado, até Poções de Cura Intermediária não tinham um efeito tão impressionante como esse!
Mesmo quando ele usava sua Habilidade de Regeneração e Magia de Cura juntas, ainda levaria algum tempo até que a cicatrização acontecesse. E mesmo assim, as marcas dos ferimentos ficariam levemente visíveis por algum tempo, até que desaparecessem completamente.
“Está feito.” A voz de Brakas soou, indicando que seu Mestre cessasse o envio de mana, após isso, seus tentáculos soltaram o homem. Ao mesmo tempo, o corpo do Major, acalmou-se, quando ele começou a reagir, como se já estivesse despertando.
…
Do lado de fora da tenda que Fernando havia colocado, os dois Soldados, que estavam fazendo a guarda, se entreolharam assustados, quando começaram a ouvir gemidos e sussurros de dor vindos de dentro.
Um Soldado olhou para o outro, como se perguntasse ‘ele entrou lá sozinho, certo?’. Normalmente eles já teriam invadido o lugar ao notar algo tão suspeito, ou pelo menos perguntariam se estava tudo bem. Entretanto, o Comandante Provisório havia declarado que ninguém deveria perturbá-lo, não importa o que acontecesse.
Conforme os gemidos se tornavam mais altos e incisivos, os dois homens não puderam evitar de suar frio, imaginando o que o jovem Tenente estava fazendo sozinho lá dentro.
Cada um tem seus gostos estranhos… Ambos os homens pensaram, tentando não julgar o rapaz.
Enquanto os dois estavam pensando sobre isso, uma mão de repente abriu a tenda. Os Soldados estavam prestes a cumprimentar Fernando, quando seus rostos ficaram pálidos ao verem que quem saiu de dentro era um velho homem. E não um velho qualquer, mas o Major Silvester!
“O que estão fazendo? Não fiquem no caminho.” O Major disse, passando pelos homens, que ainda estavam ali parados.
Logo em seguida o jovem Tenente saiu, com um rosto suado e parecendo fatigado.
Esse não é o Major Silvester? Ele não estava ferido, sendo tratado na ala médica? Mas o mais importante, o que ele está fazendo com o Tenente aí? Os dois homens pensaram, perplexos.
Fernando notou os olhares estranhos, mas fingiu não ver nada. Ele não tinha como explicar essa situação, então era melhor simplesmente não falar nada. Afinal, ele havia entrado sozinho, e agora o Major usuário de Magia de Gelo estava saindo com ele.
“I-isso, não deveria ser, certo?” Um dos Soldados disse com alguma hesitação, quando ambos os homens passaram. “Será que eles…”
“Calado.” O outro respondeu, tapando sua boca e impedindo-o de falar. “Algumas coisas não devem ser ditas em voz alta… O Comandante Provisório nos salvou, não devemos julgar seus hobbies.” O homem concluiu, com um rosto sério.