Trupe Elemental - Capítulo 86
Ainda incrédulo, John encara Sylas sem dizer uma única palavra enquanto ele explana sobre o objetivo original de ambos, a cada momento um novo flash de antigas memórias passam brevemente pela sua mente, perturbando a harmonia que havia conseguido estabelecer, e lhe causando uma intensa dor de cabeça.
— Chega! Já chega, Sylas! — Gritou, John.
— O que há com você? Tem andando diferente de antes, primeiro esquece completamente das coisas e agora está se negando para a verdade. — Ele respondeu.
— Não tem porque pararmos, John! Chegamos até aqui, tão longe! E você quer desistir agora? Desistir só porque seus inimigos voltaram a ser seus bons amigos que você conhecia? Não se engane, eles são ardilosos. — Disse Sylas.
Sylas continuava a dizer sem parar, e cada segundo que John ouvia as palavras saírem da sua boca, flashes e vultos passavam diante de seus olhos, momentos passados de batalhas contínuas. As mãos manchadas de sangue, a emoção da caça e a promessa de pagamento, as vozes em sua cabeça não paravam de ecoar.
Ele estava motivado a convencer John de fazer aquilo que ambos arquitetaram minuciosamente no passado. E ele ainda se recusava a acreditar que havia feito tal promessa para Sylas, em sua cabeça, aquelas não eram suas memórias reais, mas sim memórias forjadas e implantadas em si. E quanto mais John pensava sobre isso pior ia ficando seu estado mental.
— Olhando bem agora, você realmente parece outra pessoa, como se alguém tivesse tomado seu corpo e assumido sua aparência… — Disse Sylas.
— Por que se recusa a acreditar em mim, John? Eu posso ver claramente na sua feição, você sabe que isso é verdade, mas está sendo ignorante. O que aconteceu com aquele John que conheci naquele dia e a nossa promessa? — Sylas perguntou.
— “Os traidores serão julgados e punidos.” — Disse Sylas com um tom de voz forte.
— Juntos, nós iremos expor a verdade sobre eles, John! O mundo precisa conhecer quem são essa farsa chamada de Trupe Elemental, falsos heróis não podem ser adorados enquanto os justos são ofuscados por sua luz. — Sylas explicou.
— Vamos, John! Juntos nós somos invencíveis, conte comigo. Eu lhe darei o suporte necessário para encarar esse desafio. — Ele disse, estendendo sua mão para John.
Antes que Sylas pudesse perceber e agir, John com sua agilidade sacou sua espada e a apontou diretamente em sua face, o ameaçando caso ele não parasse de dizer todas aquelas coisas ruins sobre os outros. Sylas ficou surpreendido, aquela era a primeira vez na qual John discordava dele e possivelmente o enxergava como um inimigo real, o medo se instaurou nele.
Aquele pequeno espectro se tremeu todo quando se viu diante a ponta da lâmina, quase que em seu pescoço, pronto para aniquilá-lo. Um medo genuíno de ser morto.
— Huh. Eu já entendi… Aquela feiticeira realmente te enganou. Como uma cobra ela te mordeu e agora você está afetado pelo veneno dela. — Disse Sylas.
— Vá embora, Sylas! Antes que eu mude de ideia! — John respondeu, furioso.
— É. Fiquemos aqui, por hoje. Mas eu te avisei, John, não vá se arrepender mais tarde quando as coisas fugirem do seu controle… — Disse Sylas, desaparecendo.
A risada sarcástica de Sylas ecoou enquanto ele desaparecia, aquilo tudo deixou John atribulado, sua mente estava um campo de batalha, milhões de coisas acontecendo ao mesmo tempo dentro dela. Era como uma panela cheia de comida pronta para explodir, e quanto mais ele pensava sobre aquilo pior ficava.
Ele se perguntava como foi pensar sobre aquilo em primeiro lugar. Assassinar os próprios companheiros? Era impensável fazer um absurdo desses, mas Sylas dizia como se fosse algo normal, algo que eles dois haviam concordado em fazer. A cada piscar, resquícios do passado apareciam brevemente, mas totalmente turvos. A pessoa que fez essa promessa não poderia ser ele mesmo, mas sim seu alter ego.
John guardou sua espada de volta, tremendo ele estendeu seus braços à frente para se acalmar um pouco antes de voltar para onde os outros estavam. Fechando os olhos brevemente para uma rápida meditação para colocar sua mente em harmonia.
— Ahh, o que será que o mestre faria em uma situação como essa? — Se perguntou.
— Odeio ter que admitir, mas às vezes seus conselhos fazem muita falta. Só espero que ele tenha encontrado a paz que tanto pregava. — Sussurrou, antes de partir.
Retornando para onde os outros estavam, John os observa um pouco de longe, Mary e Tay parecem empenhados em algo, enquanto Sarah e Jesse conversam sobre algo. Ao ver que John havia retornado, Ryutisuji vai até ele para recebê-lo de volta.
— Ah, John! Você voltou bem na hora, a Mary e os outros parecem ter descoberto uma forma de localizar Philip. — Disse Ryutisuji.
— Hum? O que houve? Você parece completamente exausto. — Completou.
— Ah, não se preocupe. Não é nada demais. — John respondeu.
Ryutisuji resolve ignorar por hora aquilo e leva John até Mary para que ele se informe melhor sobre o que ela pretende fazer. Ao se reunirem, ela diz que enquanto ele e Sarah estavam fora, acabou por descobrir uma fraca energia elemental vindo da direção apontada, e que infelizmente essa era a única pista que eles teriam no momento para tentar encontrar o paradeiro de Philip.
— Humph, eu entendi. Mas como você pode ter certeza de que isso nos levará até ele? Há tantas coisas aqui das quais não sabemos, isso pode ser uma delas. O que você me diz? — Disse John.
— Na verdade, é o que você me diz. Talvez essa seja nossa única chance, John. Não há nenhum rastro de atividade humana neste lugar, e bem, eu estou contando com o que vocês me disseram, Philip pode não estar realmente aqui. — Mary respondeu.
— Ou seja, nós podemos muito bem ter vindo aqui sem nenhum motivo, estamos estritamente à mercê da fé no momento, temos que tentar. — Ela completou.
— É, você tem razão. Ele pode não estar aqui, mas fazer o que, se já estamos aqui pelo menos vamos até o final. — Disse Ryutisuji.
— Ei, vocês três. Não sejam tão pessimistas, está bem? Essa não é uma expedição qualquer, estamos falando de inúmeras vidas em jogo aqui. Temos que encontrá-lo e parar seja lá o que ele quer fazer de errado. Eu vou reunir os outros, vamos partir imediatamente, e vamos encontrá-lo! — Tay respondeu, convicto.
A pedido de Tay, o grupo se reuniu rapidamente, recolhendo seus equipamentos e já estavam prontos para continuarem aquela árdua jornada que já durava semanas. Matt que estava sentado, se levantou devagar, ajustando a faixa que cobria o seu olho prejudicado ele levantou um questionamento que estava o intrigando há um tempo.
— Eu tenho uma pergunta. Digamos que a gente consiga achar o maldito do Philip, e depois disso? Como vamos fazer para voltar após derrotá-lo? O portal que usamos já era, estamos meio presos aqui dentro… — Disse Matt.
— Eu vou pensar em algo lá, por enquanto nossa prioridade é encontrá-lo o quanto antes, ele deve saber alguma forma de sair daqui já que pode transitar livremente entre as duas realidades. — Mary respondeu.
— Espero que sim, não consigo imaginar a gente preso nesse lugar inóspito para sempre… Me dá calafrios. — Matt completou.
Vendo Matt dizer aquilo. John ficou pensativo com “Ficar preso para sempre ali” e vagamente se lembrou de algo, mas preferiu não comentar com os outros, preocupado de que eles começassem outra discussão sem motivo nenhum.
— Tudo bem, vamos andando então. Temos uma pessoa para encontrar. — Disse Tay.
E mais uma vez, o grupo caminhava rumo ao desconhecido, andando por terras inóspitas e sem vida alguma, um completo deserto cinza onde não há nenhum vento. A paisagem seca e morta incomodava os olhares de alguns enquanto outros não se importavam muito com o que viam. O foco de todos estava direcionado no fio de esperança que Mary havia prometido, uma faísca de energia elemental sentida por ela, a suposta chance que os levaria até o destino deles.
Após caminharem por horas, Ryutisuji com sua visão afiada finalmente avista algo no horizonte a frente dele, os outros ouvindo aquilo a moral reascende e o humor deles começa a melhorar gradativamente, de longe eles tentam enxergar o que é aquilo que ele havia visto mas sem sucesso, somente Ryutisuji conseguia ver de certa forma.
— O que é aquilo…? Parece uma muralha… Eu consigo ver um pouco, mas ainda está muito longe. — Disse Ryutisuji, apertando sua vista.
— Isso é sério? Vamos até lá, não temos nada a perder aqui. — Disse Mary.
Chegando mais próximo do lugar, agora de uma distância a qual os outros conseguem ver eles observam o lugar, atordoados com aquilo. As muralhas quebradas do que parecia ser as ruínas de uma civilização antiga e logo depois delas, uma enorme fortaleza caindo aos pedaços, erodida pelo tempo e esquecida por todos que um dia estiveram ali.
Vendo aquilo, Mary deu um passo à frente e afirmou que aquela pequena energia elemental que havia sentido horas atrás estava emanando de dentro daquelas ruínas.