Trupe Elemental - Capítulo 93
Algo espreitava nas sombras daquele lugar, a observando de longe, porém ela não tomava nenhuma ação. Somente essa possibilidade de estar sendo vigiada constantemente já deixava Mary um pouco aflita, todos seus passos e ações sendo rastreados por uma entidade desconhecida.
Outra coisa que Mary descobriu no pouco tempo em que ficou, é que possivelmente os corredores estão sendo manipulados para tomarem rumos diferentes e se embaralhar de maneira que prendam para sempre quem estiver tentando se aventurar pelo subterrâneo da fortaleza, suas duas hipóteses eram uma antiga falha de segurança para afastar intrusos ou a entidade desconhecida que a observa.
— Tay, vamos voltar e encontrar os outros. Eu descobri uma coisa e acho que sei como podemos encontrar John e Matt. — Disse Mary ao sair da sala.
— Uh, ótimo. Mas o que exatamente você descobriu? — Tay perguntou.
— Estamos sendo vigiados desde que entramos aqui, e ao que parece esses corredores estão tentando nos prender aqui. — Mary respondeu.
— Iremos voltar pelo caminho que viemos. Se minha hipótese estiver correta, quando chegarmos lá não haverá saída e o lugar será completamente outro do qual entramos aqui embaixo… — Mary explicou.
— Hmm, mas se isso acontecer, como iremos ir atrás dos outros? — Perguntou.
— Não é fácil? Se estiverem aqui embaixo, ficaram presos igual a nós, e uma hora vamos dar de cara com eles, eu digo a próxima parte do meu plano quando a gente os encontrar, por ora, sigamos. — Mary respondeu.
Fazendo o que Mary sugeriu e voltando pelo mesmo caminho que vieram, eles retornam ao que era para ser a entrada da adega, mas a hipótese dela estava mais do que certa, não havia nenhuma saída. Ao invés disso, o caminho era completamente diferente do que ambos se lembravam.
— Opa! Você tinha razão, o lugar está diferente! Bem, o que sugere que façamos agora já que não podemos retornar para o andar de cima? — Tay perguntou.
— Vai levar muito tempo para nós dois andarmos tudo isso, ainda mais se os caminhos mudarem novamente. Tive uma ideia para resolver isso. — Ela respondeu.
Juntando suas mãos em forma de círculo e as expandindo lentamente, Mary cria uma pequena esfera brilhante e a dispara à sua frente. Em uma alta velocidade a esfera começa a tomar distância deles e percorrer o corredor, iluminando seu caminho. Logo em sequência, Mary cria mais esferas iguais que tomam rumos diferentes cada uma delas.
— Pronto. Essas esferas vão percorrer todo o caminho para nós. Se ela retornar até nós, saberemos que esse lugar dá voltas intermináveis. — Mary explicou.
— Genial. Pelo menos não vamos precisar andar por todo esse lugar. — Disse Tay.
— Eu também coloquei uma regra para que elas parem caso encontrem sinais vitais humanos, então se elas acharem os outros, eu saberei de imediato. — Disse Mary.
— Que tal esperarmos um pouco? Ver o que as esferas conseguem achar nesse meio tempo, talvez tenhamos sorte. — Mary sugeriu.
Tay acena, dizendo não se importar em esperar um pouco. No absoluto silêncio do lugar, Mary tenta puxar assunto com ele para tentar melhorar o clima. De início ela faz perguntas retóricas e simples, e logo pergunta como foi que Tay e seu grupo encontrou John e Matt, e sobre o que os mantinham juntos por todo esse tempo.
— Hum. Nosso principal objetivo era prender Philip e levá-lo à justiça pelos incontáveis atos terríveis que ele cometeu, mas agora que a história mudou acho que só isso não será mais possível. — Tay comentou.— É claro que eu e os outros concordamos em ajudar o John, e ele concordou em nos ajudar. Foi algo mútuo, mas sinto que isso está mudando, mesmo que bastante devagar. Desse tempo que estamos juntos, sinto que já não o considero mais um completo estranho, está mais para uma amizade que está crescendo a cada obstáculo que nosso grupo supera junto. — Completou.
Ouvindo Tay comentar sobre aquilo fez Mary esboçar um pequeno sorriso seguido de uma risada frágil.
— Hmph. Vocês e ele, o John. Me lembram um pouco de quando estávamos juntos, acho que talvez tenha sido esse sentimento que nos manteve juntos por tanto tempo. Eu só queria que tudo não tivesse sido apenas mentiras e farsas. — Disse Mary.
— Ei. O passado não importa, não podemos mudá-lo, apenas nos adaptar ao que aconteceu, e eu espero o que tenha acontecido, que tenha sido para melhor. O tear do destino é algo incontrolável. — Tay respondeu.
Mas antes que pudessem continuar o assunto, Mary diz que uma de suas esferas havia encontrado sinal de vida humana. Tay perguntou se eram os outros, mas ela disse que não podia confirmar com total certeza, poderia ser de qualquer pessoa. Porém levando em conta que somente eles entraram na fortaleza, ela acreditava que não havia ninguém além deles ali.
— Acha que são eles, Mary? — Tay perguntou.
— Iremos descobrir quando chegarmos lá. Mas não se preocupe, se eu estiver errada, fico te devendo uma. Vamos, me siga! — Disse Mary.
Mary e Tay começaram a refazer o trajeto que a esfera havia feito para que pudessem chegar até onde ela estava, e quanto mais andavam, Mary percebia que a suposta entidade tentava alterar os caminhos para que eles se perdessem novamente, então sempre que isso acontecia, Mary tomava um rumo diferente.
Tay não entendeu de primeira o que ela estava tentando fazer, mas após algumas vezes, ele percebeu que Mary estava tentando enganar a entidade para que ela corrigisse o caminho novamente para eles. Assim eles podiam de fato encontrar o caminho verdadeiro que a esfera havia percorrido até seu destino.
Enquanto isso, John e Matt ainda estavam tentando encontrar a saída do lugar, mas sem sucesso.
— Ei John, escuta. Você não acha um pouco estranho? Estamos andando parece que horas e não achamos a bendita da saída deste lugar, parece que estamos andando em círculos! — Disse Matt.
— Hum? Você só percebeu isso agora? Achei que tivesse notado logo de cara, mas acho que os corredores estão sendo alterados por uma força maior. Sim, nós estamos andando sem rumo aqui embaixo. — John respondeu.
— Hã? O que?! Sabia disso o tempo todo e não me contou? Que falta de empatia! Então se estamos presos aqui, como vamos avisar os outros, e se eles vierem nos procurar também vão ficar presos! — Disse Matt.
— Se a Mary estiver aqui embaixo, ela já percebeu e deve estar pensando em uma solução para quebrar esse impasse. — John comentou.
Percorrendo aqueles corredores intermináveis, eventualmente eles encontram uma escada que desce ainda mais fundo. Já que voltar atrás não era uma opção, eles decidiram continuar adiante.
Nos andares mais inferiores do subterrâneo no qual John e Matt estavam, pouco se esperava o que eles acabariam de encontrar, dentro de uma enorme sala com uma paisagem crepitante e mística ao mesmo tempo, que os fascinava e os atrai de maneira inexplicável. As paredes e o chão do lugar estavam contaminados com algo que parecia refletir o espaço e as estrelas do céu escuro à noite, além de cristais rubros que escorriam um líquido estranho. A luz ofuscante vindo do grande arco no centro, emanava uma aura caótica e ao mesmo tempo acolhedora que os cativou.
— John, você… Está vendo isso? — Matt perguntou.
— Sem dúvidas, estou. Outra ruína, igual aquela que usamos para vir até aqui, mas como? Ela é diferente, as runas também parecem estar inativas… — John comentou.
— Eu sinto como se soubesse, mas não consigo responder, as palavras parecem desaparecer da minha mente quando tento falar. — Disse John.
— É, eu também estou sentindo algo assim, é como se estivéssemos sendo hipnotizados por sua grandeza… A Mary precisa ver isso! — Matt comentou.
Contemplando o lugar, nos extremos de cada canto, havia estátuas apontando para as ruínas, com suas mãos apontadas para cima, como se estivessem oferecendo algo para o portal. Uma rápida dedução de John, talvez estivesse faltando alguns elementos que impedia as ruínas de ativar. Diferente do que Mary fez para ativar o portal que os levou até ali, estas pareciam usar certos itens que John se referiu como “artefatos” para funcionar devidamente.
— Esse lugar… Parece que todos meus medos, e também minhas ambições desaparecessem. Eu me sinto vazio e ao mesmo tempo completo. — Disse Matt.
— Hum. Será essa a fonte principal da energia que Mary sentiu? Mas não faria sentido, e quanto aquilo que encontramos lá em cima? — John comentou.
— Mas por que isso estaria escondido justamente aqui? — Matt se perguntou.
Enquanto eles contemplavam o lugar, uma pequena esfera chegou até eles e ali parou. Quando Matt a viu, estranhou de cara mas logo percebeu do que se tratava.